ATA DA PRIMEIRA SESSÃO ESPECIAL
DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA QUINTA LEGISLATURA, EM
03-09-2009.
Aos três dias do mês de setembro
do ano de dois mil e nove, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze horas e dois
minutos, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão,
a qual teve como Mestre de Cerimônia o Senhor José Luís Espíndola Lopes,
destinada ao lançamento do livro “Porto Alegre, uma visão de futuro”, nos
termos do Requerimento nº 118/09 (Processo nº 3771/09), de autoria da Mesa
Diretora. A seguir, foi anunciada a composição da Mesa. Em continuidade, o
Senhor José Fogaça, Prefeito Municipal de Porto Alegre, pronunciou-se sobre o
livro “Porto Alegre, uma visão de futuro” e sobre o ciclo de eventos homônimo
realizado no ano de dois mil e oito. Às quatorze horas e vinte e seis minutos,
os trabalhos foram regimentalmente suspensos, sendo retomados às quatorze horas
e trinta e dois minutos. Após, pronunciaram-se sobre o tema da presente Sessão:
os Senhores João Carlos de Brum Torres, Luis Antonio Lindau e a Senhora Maria
Alice Lahorgue, respectivamente Organizador e Colaboradores do livro “Porto
Alegre, uma visão de futuro”. Durante o pronunciamento do Senhor Luis Antonio
Lindau, foi realizada apresentação de audiovisual referente ao assunto abordado
por Sua Senhoria. Em prosseguimento, o Vereador Adeli Sell assumiu a
Presidência da Câmara Municipal de Porto Alegre, em face da assunção do Vereador
Sebastião Melo ao cargo de Prefeito Municipal de Porto Alegre, das dezessete
horas do dia de hoje às vinte e uma horas do dia de amanhã. A seguir, o Senhor
Jorge Guilherme Francisconi, Colaborador do livro “Porto Alegre, uma visão de
futuro”, pronunciou-se sobre o tema da presente Sessão. Às dezesseis horas e
trinta e dois minutos, os trabalhos foram regimentalmente suspensos, sendo
retomados às dezesseis horas e cinquenta e cinco minutos. Em continuidade, o
Senhor Benamy Turkienicz, Colaborador do livro “Porto Alegre, uma visão de
futuro”, pronunciou-se sobre o tema da presente Sessão. Durante o
pronunciamento do Senhor Benamy Turkienicz, foi realizada apresentação de
audiovisual referente ao assunto abordado por Sua Senhoria. Às dezessete horas
e trinta e três minutos, os trabalhos foram regimentalmente suspensos, sendo
retomados às dezessete horas e trinta e quatro minutos. Após, foi anunciada
nova composição da Mesa. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos
Senhores João Carlos de Brum Torres, Organizador do livro “Porto Alegre, uma
visão de futuro”; Daiçon Maciel da Silva, Prefeito Municipal de Santo Antônio
da Patrulha – RS –; e Sebastião Melo, Prefeito Municipal de Porto Alegre, em
exercício, que se manifestaram acerca do tema da presente Sessão. A seguir, o
Senhor Presidente declarou oficialmente lançado o livro “Porto Alegre, uma
visão de futuro”. Às dezoito horas e trinta e três minutos, o Senhor Presidente
agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos. Os trabalhos
foram presididos pelos Vereadores Sebastião Melo e Adeli Sell. Do que foi
lavrada a presente Ata, que, após distribuída e aprovada, será assinada pelos
Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Estão abertos os trabalhos
da presente Sessão Especial, com a seguinte pauta: lançamento do livro “Porto
Alegre, uma visão de futuro” e apresentação das conclusões do Seminário
realizado em 2008 sobre o mesmo tema.
Solicito que o nosso Mestre de Cerimônias, José Luís Espíndola, proceda
à composição da Mesa.
Quero cumprimentar cada um dos nossos participantes. Solicito aos
companheiros que não tomaram assento que, por favor, contribuam com os
trabalhos; podem utilizar tanto o espaço interno quanto o externo. Solicito à
nossa Segurança que libere passagem, por gentileza, para as pessoas que
quiserem também usar a parte interna do plenário. É uma Sessão Especial;
portanto, as galerias do lado esquerdo e do lado direito estão à disposição.
Quero cumprimentar o Varceli, o nosso querido lambe-lambe, que merece
todo o nosso aplauso pelo trabalho prestado e que hoje vem aqui, de forma muito
gentil, prestar um serviço à nossa Casa. Bem-vindo!
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola): Senhoras e senhores,
boa-tarde. Neste momento, damos início à solenidade de abertura do lançamento
do livro “Porto Alegre, uma visão de futuro”.
A Câmara Municipal de Porto Alegre realizou, no ano de 2008, o Fórum de
Debates Porto Alegre, uma visão de futuro. Na ocasião, foram abordados temas
como Mobilidade Urbana, Urbanismo Sustentável, Dinâmica e Estética Urbana e
Desenvolvimento Econômico. Agora, esta Casa lançará o livro contendo as
principais reflexões, conclusões e encaminhamentos trazidos durante as
discussões dos temas apreciados.
Este evento é uma promoção conjunta da Câmara Municipal de Porto
Alegre; da Asbea - Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura -; do
IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil -, e da SERGS - Sociedade de Engenharia
do Rio Grande do Sul.
Queremos fazer um agradecimento especial aos nossos apoiadores e
patrocinadores, Banrisul; CEEE; Prefeitura Municipal de Porto Alegre; Governo
do Estado do Rio Grande do Sul; UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do
Sul -; Uniritter - Centro Universitário Ritter dos Reis; PUCRS - Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul -; Centro Universitário Metodista,
IPA; DMAE; PROCEMPA; FIERGS; Federasul; Sinduscon-RS; Metroplan; Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul; Secovi/Agademi; Sulgás; Sulpetro; Sindpoa -
Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre -; Ação Informática;
Aracruz Celulose; Caixa Econômica Federal; CaixaRS; LT Distribuidora; Sil
Resíduos; Sinergy Novas Mídias; Trensurb; Ministério das Cidades; Unimed-Porto
Alegre e Zaffari.
Para compor a Mesa de abertura convidamos o Exmo Prefeito
Municipal de Santo Antônio da Patrulha e Presidente da Granpal, Sr. Daiçon
Maciel da Silva (Palmas.); os palestrantes deste evento: Engenheiro Luis
Antonio Lindau (Palmas.); o Arquiteto Urbanista Jorge Guilherme Francisconi
(Palmas.); o Sr. Marcello Beltrand (Palmas.) e a Economista Maria Alice
Lahorgue (Palmas.).
Estamos aguardando a presença do Prefeito Municipal de Porto Alegre, o
Sr. José Fogaça.
O Ver.
Sebastião Melo, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, está com a
palavra.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Com a Mesa parcialmente
composta, eu quero, mais uma vez, dizer qual vai ser a nossa programação de
hoje. Na verdade, o lançamento do livro será no final da tarde, mais
precisamente às 17h30min.
O Sr. Prefeito Municipal, que está chegando à Casa, estava programado
para estar conosco também no lançamento do livro, mas, em razão de compromisso
emergencial na cidade de São Paulo, vai ter que se ausentar de Porto Alegre;
ele comparece aqui na Câmara e, logo, irá para o aeroporto. Não estando o
Vice-Prefeito na Cidade, por dever constitucional e orgânico, o Presidente da
Câmara assume a Prefeitura, e o Ver. Adeli Sell assumirá a presidência da Casa.
Sr. Daiçon Maciel da Silva, Prefeito de Santo Antônio da Patrulha e
Presidente da Granpal, para nós é muito importante a sua presença aqui, porque
V. Sª representa todos os Municípios da Grande Porto Alegre, o que dá um
significado maiúsculo a este encontro, porque, para nós, é muito claro que os
grandes temas urbanos não estão restritos à nossa Cidade, eles têm que ter uma
visão de conjunto da Região Metropolitana.
Então, neste momento, estamos aguardando a presença do Prefeito
Municipal, o Sr. José Fogaça, que fará só uma saudação, porque precisa sair
logo em seguida. O Presidente da Granpal fará o seu pronunciamento no final da
tarde, quando será feito o lançamento do livro.
No final deste encontro, teremos, logo à noite, um jantar por adesão
para todos aqueles que quiserem participar.
O Profº João Carlos Brum Torres, que já está a caminho, foi o
Coordenador deste grande debate; fazemos questão de, mais uma vez,
cumprimentá-lo. O Marcello Beltrand, junto com o Profº João Carlos, foi aquele
que também coordenou todo o processo de organização, junto com os 36 Vereadores
da Legislatura passada - o evento aconteceu no ano passado. (Pausa.)
Neste momento, recebemos a presença do Prefeito José Fogaça. (Palmas.)
Sr. Prefeito, eu estava dizendo que, para nós, esta é uma data
especialíssima. Esta Casa é um ano mais jovem do que a cidade de Porto Alegre.
A nossa Cidade faz 237 anos, e a nossa Câmara de Vereadores faz 236 anos.
A história da Câmara e a da Cidade se confundem.
Estamos tendo uma riqueza de acontecimentos muito grande nesta semana,
com vários eventos, e, ontem, descerramos as fotos de várias extraordinárias
Vereadoras.
Eu chamaria a atenção para dois eventos nesta semana. O primeiro é este
de hoje, quando nós estamos entregando às nossas universidades, ao nosso
Prefeito, a toda a extensão do Governo, uma contribuição singela, mas muito
profunda, sobre esta questão urbana, e é importante que também o Prefeito
Daiçon Maciel da Silva esteja aqui, porque eu sei que ele também pensa assim,
também age assim e sabe que nós não vamos encontrar soluções para os temas de Porto
Alegre se não estivermos muito lincados com a Região Metropolitana.
Eu estava dizendo aos nossos visitantes e aos nossos Vereadores que o
Prefeito de Porto Alegre havia se programado para estar conosco no lançamento
do livro, que vai acontecer às 17h30min, mas que, por ofício da Prefeitura, foi
chamado para um encontro em São Paulo, vai deixar a Prefeitura e se encaminhar
ao aeroporto logo em seguida; por isso está aqui no início desta Sessão. Neste
momento, eu tenho o prazer e a honra de conceder a palavra a V. Exª para a sua
saudação, a fim de que possamos liberá-lo. Bem-vindo, Prefeito.
O SR. JOSÉ FOGAÇA: Muito obrigado, Presidente Sebastião Melo. É
uma grande honra ocupar esta tribuna na tarde de hoje, num momento em que todos
nós, de forma unida e solidária, comemoramos os 236 anos de vida democrática
nesta Cidade e do exercício pleno do Parlamento, do debate, da discussão, da
construção política das decisões legislativas através da nossa Câmara de
Vereadores.
A primeira palavra é uma palavra, mais uma vez, de reconhecimento e
homenagem à Câmara de Vereadores pelo fato de esta Casa ter uma história
extremamente consistente, e também porque, nesses últimos anos, nós temos sido
testemunhas vivas, permanentes, do enorme nível de responsabilidade político-institucional
dos Vereadores desta Casa - Governo, oposição, de todos os partidos políticos.
Eu disse isto no dia da posse do primeiro mandato e repeti na posse também
deste mandato como Prefeito de Porto Alegre, e volto a dizer: nenhuma outra
instituição da Cidade tem a universalidade de representação que tem a Câmara de
Vereadores; nenhuma outra instituição consegue ser tão completamente, tão
universalmente, tão amplamente representativa como a Câmara de Vereadores. A
Câmara, realmente, é a única instituição que pode dizer que representa a
totalidade - mas uma totalidade extremamente diversificada - do pensamento da
Cidade. Aqui estão todas as correntes, todas as linhas de pensamento, e, de
forma direta ou indireta, elas encontram aqui o seu canal, o seu meio de
expressão. Portanto esta é a instituição da Cidade, porque o Governo consegue
ser, no máximo, a maioria. O Governo representa a maioria e, embora governe
para todos, embora exerça o governo para o conjunto da Cidade, ele tem uma
representação política apenas e tão somente da maioria. A Câmara, não. A Câmara
não é apenas e tão somente a maioria; aqui está o conjunto universal do
pensamento político da cidade de Porto Alegre. Parabéns à Câmara de Vereadores
nesses 236 anos.
Então eu quero agradecer o Presidente Melo por esta oportunidade;
saudar o Prefeito Municipal de Santo Antônio da Patrulha, Daiçon Maciel da
Silva, que também é o nosso Presidente da Granpal - Associação dos Municípios
da Grande Porto Alegre; saudar também os palestrantes deste Evento, todos eles
demasiadamente conhecidos nossos, o Engº Luis Antonio Lindau; a Economista
Maria Alice Lahorgue; o Arquiteto Jorge Guilherme Francisconi e o nosso querido
amigo Marcello Beltrand, que tem tantos serviços também prestados a projetos
desenvolvidos nesta Cidade.
Este livro “Porto Alegre, uma visão de futuro”, eu acompanhei a sua
elaboração, pode-se dizer, porque acompanhei todos os debates realizados no ano
passado, todas as discussões, as avaliações sobre o desenvolvimento urbano da
Cidade, e o fiz com muito apreço, de forma muito curial, Sr. Presidente,
visando sempre a ter conhecimento destas indagações, destas perguntas, destes
questionamentos que se fazem em torno do futuro de Porto Alegre, sobre o que
Porto Alegre quer ser; para onde a Cidade pretende crescer e se desenvolver;
para onde esta Cidade quer caminhar; que identidade quer ter como vida
comunitária; que identidade, como associação coletiva de interesses, esta
Cidade pretende ter. Isso só se sabe através desta imensa massa crítica, desta
imensa construção de conhecimento que se faz através de um trabalho como este.
É preciso aqui reconhecer o trabalho realizado pelo nosso querido Professor de
Filosofia, João Carlos Brum Torres, Secretário de Coordenação e Planejamento do
Governo do Estado do mandato anterior, um homem de larga vivência intelectual
na Universidade e de grande experiência prática e direta nas questões do Rio
Grande do Sul e também nas questões da nossa Cidade.
Trago aqui
esta palavra de apreço, esta palavra de reconhecimento e esta palavra de
respeito. A Câmara de Vereadores não só faz os seus debates candentes,
importantes, comprometidos com a Cidade, como também reflete sobre o seu
futuro; ela também se dá ao trabalho de parar, em determinado momento, e se
permitir uma reflexão que olha mais adiante no horizonte, que é capaz de pensar
com mais calma no que temos que, de forma articulada e definida, construir como
coletividade.
Eu queria dizer, Presidente, que um dos elementos mais importantes da
democracia, talvez um dos mais imprescindíveis em termos de organização
político-institucional de uma cidade, é o planejamento, a capacidade de prever
e de organizar caminhos de futuro. Uma cidade que não prevê e que não organiza
caminhos e opções de futuro é uma cidade que está impondo ditadura para as
futuras gerações, é uma cidade que não está dando opções aos futuros cidadãos
de Porto Alegre; mas uma cidade que planeja, que pensa com critério, uma cidade
que articula diversas opções e, entre essas opções, define os seus caminhos, é
uma cidade que dá direito ao futuro de ter opções democráticas, de fazer
escolhas corretas e adequadas. Quando não há planejamento, não há escolha, o
que há é a imposição de uma realidade inevitável; e aí nós somos vítimas da
ditadura do passado. Portanto o planejamento é um fator essencial da
democracia, para que os governantes e os cidadãos não sejam vítimas da ditadura
do passado. Toda a vez que a cidade se ausentou da ideia de planejamento, ela
construiu um estreitamento para as opções de futuro. Toda a vez que a cidade
planeja, pensa, reflete, abre o leque de opções, ela dá ao futuro o direito de
fazer opções democráticas, de construir escolhas democráticas, e é isto que nos
alegra quando vemos o trabalho que V. Exª tem realizado, Presidente Sebastião
Melo, tentando, aqui, abrir espaço para esse tipo de reflexão, para essas
visões de futuro que, realmente, abrem essa grande perspectiva à nossa Cidade.
Agradeço os Vereadores pelo trabalho extraordinário realizado neste
primeiro semestre aqui, na Câmara. Dezenas e dezenas de projetos de interesse
público, de interesse da Cidade, foram aqui aprovados, tudo fruto de um
trabalho intenso dos Srs. Vereadores, um trabalho que entrou, muitas vezes,
horas da noite adentro; uma dedicação à causa da Cidade que nós precisamos
reconhecer a cada dia e a cada passo. Muito obrigado e parabéns, Presidente;
parabéns, Srs. Vereadores. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola): Prestigiam esta solenidade
os Vereadores Adeli Sell, Airto Ferronato, Carlos Todeschini, Dr. Raul,
Fernanda Melchionna, Haroldo de Souza, João Antonio Dib, João Pancinha,
Marcello Chiodo, Maria Celeste, Nelcir Tessaro, Paulinho Ruben Berta, Tarciso
Flecha Negra, Toni Proença, Valter Nagelstein, Waldir Canal, Mauro Zacher,
Engenheiro Comassetto, Bernardino Vendruscolo, Elias
Vidal, Dr. Thiago Duarte, Mauro Pinheiro e Luiz Braz; a Srª Eni Weber,
Vice-Prefeita de Coxilha; a Srª Rita Carnevale, Presidente do Conselho
Municipal de Ciência e Tecnologia; o Sr. José Luiz Bortoli Azambuja, Presidente
do Sindicato dos Engenheiros - Senge/RS; o Sr. Joel Fischmann, Vice-Presidente
do Sindicato dos Engenheiros - Senge/RS; o Sr. Paulo Zago, Vice-Presidente do
Sinduscon; o Sr. Secretário Newton Braga Rosa, da Secretaria Inovapoa; o Dr.
Victor Villaverde Coelho; a Drª Ana de Paula, do Fórum de Mulheres.
Com a palavra o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre,
Ver. Sebastião Melo.
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo): Registramos também a
presença da Verª Juliana Brizola, e, no decorrer desta cerimônia, vamos fazendo
as citações dos demais participantes deste encontro. Eu quero agradecer ao Sr.
Prefeito, que participou da abertura dos trabalhos, e desejar a ele boa viagem
à cidade de São Paulo.
Portanto, suspendo a Sessão por alguns minutos, para a despedida do
Prefeito, e, depois, voltaremos aos trabalhos com a Mesa desfeita e já com os
nossos painelistas, que darão seguimento às palestras, com as intervenções da
participação da população. Estão suspensos os trabalhos para as
despedidas.
(Suspendem-se os trabalhos às 14h26min.)
O SR. PRESIDENTE (Sebastião Melo - 14h32min): Estão reabertos os
trabalhos. Srs. Vereadores e Sras Vereadoras, eu faço um apelo para
que os senhores retornem às suas bancadas. Quero, mais uma vez, dizer aos
nossos convidados que o plenário, na parte interna, está liberado a quem quiser
ocupá-lo; só peço que liberem os corredores e tomem assento, pois há bastantes
lugares.
Neste momento, eu convido aquele que foi o Coordenador de todo este
evento “Porto Alegre, uma visão de futuro”, que merece o reconhecimento desta
Casa e da Cidade, Profº João Carlos Brum Torres, para assumir os trabalhos e
dar início aos painéis. Bem-vindo, Profº João Carlos.
O SR. COORDENADOR (João Carlos Brum Torres): Boa-tarde. Vamos dar
continuidade a esta Sessão e passar para a nossa segunda atividade, depois
desta abertura tão prestigiada com a presença do Prefeito Municipal, Sr. José
Fogaça.
Nesta parte da nossa tarde, vamos proceder à apresentação dos grandes
temas que foram tratados no livro, e quero aproveitar para pedir aos
coordenadores dessas diferentes áreas para que, de viva voz, apresentem aos
senhores a sua posição com relação a esses diferentes assuntos e também aquilo
que eles puderam refletir depois do encerramento do nosso trabalho, depois de
terem visto a consolidação material dos nossos debates, das discussões que eles
coordenaram, de modo que a gente tenha uma avaliação atualizada, vamos dizer
assim, e feita aqui em interação com os senhores. A palavra estará à disposição
para todos que queiram se posicionar, intervir nesta discussão.
O tema geral do nosso Seminário do ano passado está bem resumido neste
título “Porto Alegre, uma visão de futuro”. Mas, antes de abrir o nosso debate,
eu queria aproveitar a ocasião para, neste início de Sessão, mais uma vez
valorizar a iniciativa tomada por esta Câmara de Vereadores e pelo seu
Presidente, que teve a clarividência de dar um passo atrás na rotina do
trabalho parlamentar para abrir um espaço de discussão sobre a nossa Cidade.
Isso não é uma coisa muito comum; afinal de contas, o trabalho
legislativo é um trabalho que se faz caso a caso, na apreciação de cada
projeto. Mas, por outro lado, quando a gente tem uma cidade complexa como é
Porto Alegre, que tem dificuldades muito conhecidas, muito vivas e que, durante
um certo tempo, esteve como que esquecida da sua problemática urbana, vale a
pena valorizar, chamar a atenção para o pioneirismo dessa iniciativa que os
senhores tomaram sob a liderança do Presidente Sebastião Melo. Não vou me
alongar, pois vamos ter oportunidade de voltar a esse assunto no decorrer deste
dia, especialmente no momento formal de lançamento do livro. Antes de abrir o
nosso debate de caráter mais técnico, eu queria fazer esse registro, que me
parece muito merecido, porque esta Casa tomou uma iniciativa que não é comum, e
ela precisa ser reconhecida e valorizada.
Para o início da nossa tarde de discussões sobre esses assuntos, eu vou
passar a palavra ao Engenheiro Lindau, que foi o nosso Coordenador da área de
debates sobre mobilidade urbana. Ele é uma autoridade no assunto, um grande
amigo e cumpriu, nesse processo, uma das tarefas mais difíceis,
e contou também com a colaboração de pessoas muito qualificadas; enfim, o
Lindau poderá fazer um apanhado do debate da questão tal como ele a vê. Porto
Alegre, como se sabe, é uma cidade que tem problemas nessa área, e acho que
teremos, ao conversar com o Engenheiro Lindau, uma boa oportunidade de
atualizar a nossa visão sobre esse assunto.
Depois passarei a palavra aos nossos demais
coordenadores: para a Maria Alice Lahorgue, que coordenou a área de
desenvolvimento econômico e, depois, para o Arquiteto Jorge Guilherme
Francisconi, que foi quem cuidou do grande tema sobre o urbanismo sustentável.
Sem mais delongas, eu passo a palavra ao
Lindau.
O SR. LUIS ANTONIO
LINDAU: Boa-tarde a todos. Foi com grande satisfação que
recebi o convite do Ver. Sebastião Melo, Presidente desta Câmara Municipal; do
Professor Brum Torres e do Jornalista Marcello Beltrand para coordenar o tema
da mobilidade urbana, dentro do evento “Porto Alegre, uma visão do futuro”.
Em maio de 2008, nós tivemos a oportunidade
de reunir um público de mais de 400 pessoas para discutir a mobilidade urbana,
incluindo vários Vereadores desta Casa que participaram ativamente das
oficinas. Esse trabalho desenvolvido encontra-se publicado num capítulo do
livro que hoje é lançado. O que eu vou apresentar a vocês são as minhas
principais reflexões sobre a questão da mobilidade urbana, que é um tema sobre
o qual eu atuo profissionalmente há mais de três décadas.
Não sei se seria possível, mas, para a
qualidade da apresentação, seria melhor desligar as duas primeiras luzes aqui
da frente.
(Apresentação de datashow.)
O SR. LUIS ANTONIO LINDAU:
Eu iniciaria dizendo a vocês que transportes e infraestrutura são os
itens que têm o maior potencial para direcionar o desenvolvimento urbano, e nós
estamos falando disto: de como desenvolver a cidade de Porto Alegre. A foto que
vocês têm aí é uma foto de Curitiba. E vocês vão ver que, durante a minha
apresentação, eu vou me valer muito de imagens de vários lugares. Eu gostaria
de iniciar com esta de Curitiba.
Curitiba, de fato, direcionou o crescimento da cidade por intermédio do
transporte, e isso está evidente nesta imagem. Isso tudo foi planejado na
década de 70, e isso tudo se tornou realidade. E mais, Curitiba acabou de
lançar, há pouquíssimo tempo, um Projeto chamado Linha Verde. Aqueles que não o
conhecem, eu convidaria a entrarem no site para buscar informação; o
Projeto é um novo corredor de desenvolvimento urbano, todo centrado em um eixo
de transportes que será operado por veículos na superfície com
combustíveis limpos, veículos movidos 100% a biodiesel.
O congestionamento de que falamos tanto
aqui, e sobre o qual é falado em tantos outros lugares, é um problema mundial.
E se nós fizermos algumas projeções do que vai acontecer na nossa Cidade, o que
eu posso dizer a vocês, infelizmente, é que a situação só tende a piorar. Onde
existe o homem, hoje, no planeta, existe congestionamento. Se nós pensarmos
que, nesta Cidade, nós temos menos da metade da motorização das cidades
europeias e temos menos de um terço da motorização das cidades americanas, o
simples enriquecer da nossa população - que é algo a que almejamos e,
seguramente, alcançaremos - a motorizará mais e fará com que o nosso problema
do congestionamento se agrave.
E isso nos leva a uma grande indagação: que
tipo de cidade queremos? Queremos uma cidade voltada para o automóvel, coberta de
viadutos, vias elevadas, terceiros pisos - como chamam já em vários lugares -;
quartos pisos, como em outros lugares já se fala? Ou vamos seguir a linha do
mundo em desenvolvimento, que fez isso no passado e que, hoje, põe abaixo esse
tipo de estrutura?
Nós ainda não temos, obviamente, essa
estrutura, felizmente, toda construída, mas aquelas cidades que a fizeram estão
se livrando dela. Então, como não chegamos ainda lá, será que é esse o caminho
que queremos traçar?
O espaço viário é absolutamente finito. Nós
não temos como acompanhar o crescimento urbano aumentando o espaço viário; não
é possível esse tipo de solução. Por outro lado, o espaço viário poderia ser
mais bem aproveitado. Hoje em dia, o nosso espaço viário, infelizmente, é
praticamente todo dedicado aos automóveis. Nós devemos usar com muito mais
equidade esse espaço viário, mesmo porque não são só automóveis que transportam
pessoas, e, como vocês verão, o automóvel é a forma mais ineficiente de
transportar pessoas numa área urbana.
Existem três eixos do transporte urbano
sustentável - e isso não é de minha autoria, vocês vão encontrar isso na
literatura. Aliás, aproveito para dizer a vocês que, no livro, vocês têm, no
mínimo, vinte referências internacionais, muitas delas disponibilizadas em websites
que vocês podem facilmente consultar, e vocês verão o quão pujante é o discurso
da mobilidade sustentável, hoje, no planeta. As três linhas são: restrição ao
automóvel, melhoria ao transporte coletivo e fomento ao transporte não
motorizado. E eu vou abordá-las todas nesta apresentação.
A primeira questão é: nós queremos usar
nosso espaço urbano para mover pessoas ou para mover veículos? Esta foto foi
tirada em
Santiago, no Chile, recentemente. Vocês podem ver, à esquerda, o espaço viário
ocupado por automóveis e por um ônibus e a quantidade de pessoas dentro desses
veículos; então, dá para ver claramente que o ônibus é uma forma muito mais
eficiente de transportar gente na superfície viária. Aqui não temos um
exercício equivalente com pedestres ou com ciclistas, mas vocês veriam, da
mesma forma, que é muito mais eficiente transportar pessoas e manter o ciclista
também na superfície do que automóveis.
Eu acho que números também são importantes, embora talvez não sejam do
agrado de todos, mas vamos olhar números. Vocês não conseguem ver ali a faixa
de automóveis, porque não está clara a imagem, mas uma faixa de automóvel, à
direita, consegue transportar, numa área urbana, não mais do que 1.500 pessoas
por hora - uma faixa -, isso considerando a ocupação média dos automóveis. Já
os veículos de transporte coletivo na superfície conseguem levar até 15 mil
passageiros/h/faixa. Então é fácil ver que uma faixa usada pelo transporte
coletivo leva dez vezes mais gente do que uma faixa dedicada a automóvel. Isso,
de certa forma, resgata aquilo que eu estava falando antes: o nosso espaço
urbano é finito, o nosso espaço viário é finito, mas, de acordo com o nosso
uso, esse espaço ainda não foi, obviamente, explorado na sua plena capacidade,
o que nos dá muita margem para melhoria.
Fala-se muito - e se debateu muito aqui em Porto Alegre - sobre a
questão de rodízio de placas, e eu quero dizer a vocês que, infelizmente, esse
rodízio - onde foi adotado - não se revelou uma boa prática a longo e a médio
prazo, na medida em que a motorização cresceu nessas cidades. Nós temos três
exemplos internacionais latino-americanos, no caso Bogotá, Cidade do México e
São Paulo, onde isso foi implantado, e o que se notou é que, na medida em que
as sociedades se motorizaram e que carro apareceu nas casas, outras pessoas
passaram a usar esses carros, visto que esses carros não eram usados por
aqueles que os compraram originalmente. Então essa não é a melhor solução, mas,
felizmente, existem outras medidas muito mais eficientes para tratar desse
assunto.
Outra oportunidade, no caso, são as nossas vias urbanas. Elas não
deveriam ser interpretadas como estoque de veículos, na medida em que podem ser
usadas para estacionamento, mas elas podem ser usadas, definitivamente, para o
transporte de pessoas. (Mostra a foto.) Este é o exemplo de Londres, onde vocês
têm essas rotas vermelhas, e há placas como a colocada ali, onde é
absolutamente impossível estacionar sob qualquer forma, ou seja, a via é,
realmente, para automóveis circularem, mas é uma forma mais eficiente também do
espaço viário.
Outra questão adotada em várias cidades - e essa prática, pelo menos em
Sidney, na Austrália, avançou bastante - é a questão da taxação
dos estacionamentos. Já que as pessoas vão utilizar carros, uma forma de
restringir um pouco essa circulação seria cobrar mais pelo estacionamento. Isso
seria uma forma muito interessante de captar recursos que poderiam ser, então,
destinados para o transporte coletivo. Obviamente um estacionamento mais caro
também influenciaria na decisão do usuário em utilizar ou não o automóvel, o
que, eventualmente - aconteceu lá em Sidney -, levaria ao desaparecimento de
alguns edifícios-garagem, o que contribuiu também para que menos pessoas fossem
ao Centro de automóvel.
Talvez a questão mais atual e bastante
polêmica nesse sentido é a da taxação do congestionamento, uma medida que está
avançando no planeta. As discussões avançam muito mais rapidamente do que a
implantação prática, mas três cidades no mundo, pelo menos de grande porte, têm
hoje taxação de congestionamento. A primeira a implantar isso foi Cingapura - é
a menos conhecida por isso -; a segunda foi Londres, que vocês vêm aí, e a
terceira foi Estocolmo; outras tantas estão discutindo o assunto. O que faz, na
verdade, a taxação é cobrar pelo uso do espaço viário justamente naquelas horas
em que as vias estão mais congestionadas. Isso não vale para o dia inteiro, e,
no caso de Estocolmo, que é um pouco mais avançado do que o caso inglês, são
cobrados valores diferentes de acordo com períodos distintos. Chamaram a
questão da taxação do congestionamento, infelizmente, ao traduzirem para o
português, de “pedágio urbano”, e aí veio toda a conotação de pedágio para
isso, o que é uma das más traduções da nossa área de transportes; isso deveria
se chamar “taxação de congestionamento”.
No caso de Estocolmo, como eu estava falando
para vocês, essa medida foi implantada, e, no momento em que foi implantada,
foi colocado o prazo de um ano para que fosse feito um plebiscito popular sobre
a medida. Obviamente essa medida foi antipática como em todas as cidades,
imagino - no princípio, os governos devem ter muita vontade de resolver a
questão da mobilidade para implantar isso -, mas, uma vez implantado, e sendo
antipática naquele momento, um ano depois, em plebiscito, a população
referendou e garantiu a continuidade dessa medida. Essas cidades geram valores
na ordem de 100 a 300 milhões de reais por ano com esse tipo de taxação, e esse
dinheiro, em todos esses lugares, é revertido para o transporte coletivo.
Falando um pouco de metrôs, que é uma grande
aspiração de Porto Alegre e de outras tantas cidades brasileiras, há, talvez, o
melhor e mais conhecido - vocês conhecem bem a logotipia e talvez até as
linhas; essa é uma marca internacional; Londres tem metrô desde 1863, foi a
primeira cidade
a implantar metrôs subterrâneos, e hoje tem a maior rede do mundo, com 408km.
Se observarmos o período de 1863 até agora, isso nos dá uma média de 2,8km por
ano. Alguns de vocês talvez digam que Londres construiu isso num certo período
e que não precisa mais de metrô; portanto, parou a construção de metrô. Só que
há um detalhe, vamos olhar os números: mais gente é transportada por ônibus em
Londres do que por metrô - não sei se vocês sabiam disso. Logo, poderia haver
espaço para a construção de mais metrôs em Londres.
Se vocês observarem os metrôs na América Latina - e este é um mapa
desses metrôs -, verão que há muito maior incidência de pontos na América do
Norte do que na América do Sul, particularmente em função dos custos.
O nosso
próximo slide revela também um pouco dos nossos três verdadeiros metrôs
brasileiros, no caso do Rio, São Paulo e Brasília, que têm todas as conotações
típicas de um metrô, conforme definido na literatura e na prática internacional.
Temos aí velocidades de implantação na ordem de um a 2,6km por ano, ou seja,
metrôs são lentos em termos de implantação - uma rede metroviária é
naturalmente lenta em função dos custos. Um quilômetro de metrô, segundo a
Companhia Brasileira de Trens Urbanos, está na ordem de 167 milhões de reais. A
literatura internacional referencia algo em torno de 100 milhões de dólares o
quilômetro, embora existam aí exemplos de outros tantos trechos metroviários
que custaram mais do que isso.
Falando um
pouco também do transporte coletivo, e agora olhando para a superfície, os
BRTs, que seriam, em inglês, os chamados Bus Rapid Transit, na verdade,
se originaram em Curitiba; a grande inspiração foi Curitiba, e esse modelo se
propagou para o mundo. Assim como Curitiba continua investindo, outras tantas
cidades começaram a investir.
Então, no primeiro slide, ali em cima, à esquerda, está a Cidade
do México, que é um dos lugares onde há metrô; e também Bogotá, Brisbane e
Paris, só para dar a vocês uma ideia de que mesmo cidades com redes de metrôs
já consolidadas estão investindo em sistemas tipo BRT. Nós temos também lugares
como Istambul e Johannesburg, essa última se preparando para a Copa do Mundo e
já planejou, no passado, fazer sistemas metroviários como outras tantas cidades
sul-africanas, mas acabou implantando - ou ainda está em estágio de implantação
- sistemas BRTs, sem falar em outras cidades mexicanas como Guadalajara, ou no
caso chinês, em que há, neste momento, mais de vinte sistemas BRTs em
implantação.
Por que tanto BRT no planeta? Por que eles florescem como cogumelos
pelo planeta? Na verdade - aí nós só temos países marcados, mas, praticamente
em todos os países do mundo, hoje, há BRTs em construção -, é porque ele custa
na ordem de 20 a 100 vezes menos do que um quilômetro de metrô.
Um outro aspecto que precisamos trabalhar com mais intensidade, com
mais dedicação é o da integração das bicicletas ao transporte coletivo, quer
dizer, as medidas do transporte não motorizado. Essa integração pode se dar no
próprio veículo ou pode se dar nas estações. Existe um potencial enorme para se
desenvolverem coisas desse tipo no Brasil. Nós temos agora - inclusive foi
aprovado por esta Casa - um Plano Diretor Cicloviário, mas a questão do Plano
Diretor Cicloviário, que, no caso de Porto Alegre, é da ordem de 500km, não se
esgota nas vias; precisamos pensar também no estacionamento. Bicicleta é como
automóvel, precisa estacionar em algum lugar; então precisa ser tão incentivada
a questão do estacionamento ou tão promovido o estacionamento quanto a
implantação de faixas para bicicletas.
Se vocês também acreditarem que isso é uma coisa que talvez não “pegue”
e que talvez não se desenvolva, vamos pegar o exemplo de Budapeste. Não sei se
vocês conhecem ou não, mas a topografia de Budapeste não é boa, o clima de
Budapeste não é bom, e Budapeste virou uma cidade para bicicletas, isso tudo a
partir de um movimento de poucos anos atrás, organizado pela sociedade civil,
que vingou, e Budapeste aderiu maciçamente à questão das bicicletas.
Abrindo um parêntese na minha apresentação, vocês devem ter visto que a
Rede Globo fez várias imagens do acidente do Felipe Massa e do hospital, onde
havia uma equipe de plantão na frente, e vários takes feitos lá captaram o ambiente urbano; na frente daquele
hospital, havia uma ciclovia, algo que, há poucos anos, não existia; isso só
para vocês terem uma ideia de como algo aparece na cidade e de como, uma vez
que aparece, prolifera.
Outros exemplos internacionais: o pessoal de São Paulo convidou o
pessoal de Seul para ver o que este havia feito, mas, nessa bela foto ao fundo,
temos algo que talvez seja parecido com o nosso riacho Ipiranga, só que num
estágio muito pior e que, inclusive, estava tapado não só com uma via, pois, em
cima dessa via, existia outra via. Isso tudo foi dinamitado, isso tudo foi
resgatado para o ambiente urbano. E a primeira impressão dos moradores era:
“Puxa, mas como o Prefeito ousa fazer isso? Será horrível”. E o Prefeito hoje é
o Presidente da Coreia do Sul. Quer dizer, num primeiro momento, as reações
sempre são fortes para práticas desse tipo, mas resgatar um ambiente urbano é
algo que a gente deveria ter como objetivo.
Naturalmente, nesse sentido, a sustentabilidade passa por um uso
equilibrado do espaço urbano. Eu não gostaria de falar também na Holanda,
porque aí vocês vão dizer que é uma questão cultural, talvez, de vários
séculos. Não só a Holanda como também outros países nórdicos são belíssimos
exemplos de como destinar espaço urbano primeiro para as pessoas e justamente
nesta ordem: pedestres, bicicletas, transporte coletivo e, depois, o automóvel.
No Brasil, a demanda por transporte coletivo está caindo. Esse é um
fenômeno que ocorre não só aqui, mas em todas as cidades brasileiras - no caso,
Porto Alegre ainda está acima da média das grandes cidades brasileiras. Cresce
o transporte privado, pois nunca se vendeu tanto carro, sem falar nas
motocicletas, cuja venda aumentou. Talvez, em poucos anos, a quantidade de
motos vendidas seja igual à de automóveis no Brasil - assim mostram as
projeções.
Segundo a última pesquisa origem/destino, realizada na cidade de Porto
Alegre, 44% das pessoas que se deslocam usam o transporte coletivo; 26% utiliza
o transporte privado, ocupando praticamente toda a superfície viária; e 30% dos
deslocamentos de mais de 500m, que é considerada uma viagem urbana em
transportes, são realizados por pedestres. Então vocês veem a
desproporcionalidade em termos equitativos da destinação do espaço urbano.
O Centro de Porto Alegre já foi o segundo bairro de todo
porto-alegrense. Vários dos senhores concordam com isso, e os jovens talvez já
não conheçam mais tanto o Centro, conheçam os shoppings de Porto Alegre, mas, na verdade, o nosso mais belo e
interessante espaço urbano, que é o Centro da Cidade, durante muitos anos,
entrou em franca decadência. Pode-se dizer que um dos pontos de decadência do
Centro da Cidade seria a carga ambiental de 33 mil movimentos de ônibus
chegando ao Centro e saindo dele em corredores que, na década de 80, eram belos
corredores de transportes, mas que, infelizmente, ajudaram a proliferar a
quantidade de ônibus em circulação, o que acabou gerando coisas desse tipo.
Ali embaixo, está o mapa de todas as linhas urbanas da cidade de Porto
Alegre. Se vocês olharem para aquele emaranhado, verão a dificuldade de alguém
se relacionar com o sistema e a dificuldade de alguém planejar um deslocamento
não usual por meio de um transporte coletivo, isso tudo com a penalidade de
termos hoje ônibus circulando até a 10km/h em horários de pico, e essa carga
toda de impacto ambiental no Centro tanto de poluição visual quanto de
emissões, não só de emissões globais como também de emissões locais e que
prejudicam os nossos pulmões, comprometendo a nossa qualidade de vida.
Quanto à questão da poluição sonora e ambiental, estas são duas fotos
que eu tirei e que, de certa forma, exemplificam isso, são calçadas que se
transformaram em terminais de ônibus. Esse é o último estágio, não tem mais
onde pôr, quer dizer, quantas praças perdemos, no Centro, em função de
terminais de ônibus! Como não temos mais praças para tomar, então as calçadas
urbanas se transformaram também em terminais de ônibus. A Av. Salgado Filho
talvez seja o melhor exemplo disso, é um longo e enorme terminal que agora se
espalha pela Av. Borges de Medeiros também.
O SR. COORDENADOR (João Carlos Brum Torres): Eu
gostaria de
registrar a presença das seguintes pessoas: Profº Benamy, que é o nosso outro
painelista; Ver. Marcelo Cardona, Presidente da Câmara de Vereadores de
Montenegro, e Sr. Adalberto Heck, representante da Reitoria da Unisinos.
(Pausa. Problemas técnicos.)
O SR. COORDENADOR (João Carlos Brum Torres): Enquanto esperamos, o nosso
Mestre de Cerimônias vai dar algumas informações.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola): Registramos as presenças do
Sr. Emídio Marques Ferreira, Vice-Presidente de Patrimônio do Sport Club
Internacional; do Sr. Romano Tadeu Botin, Vice-Presidente da Sociedade de
Engenharia do Rio Grande do Sul; do Arquiteto Adalberto Heck, representante do
Reitor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Padre Marcelo Fernandes de
Aquino.
Eu gostaria de informar a todos os senhores que, após o lançamento do
livro, às 20h, haverá um jantar por adesão no Bistrô Variettà do Rua da Praia
Shopping. O custo do jantar é de 30 reais por pessoa. Estão todos convidados.
Para o
nosso caso ferroviário, e falando um pouco da Trensurb, hoje nós temos 33,8 Km
de um trem suburbano que está sendo expandido, que é a nossa Linha 1,
Norte-Sul, e que nos entregará mais 9,3 Km, uma vez encerrado - isso em termos
de Linha 1. Depois a Trensurb tem o plano de construir uma linha do aeromóvel
conectando o aeroporto à estação da Trensurb, e isso facilitaria a ligação
sobre trilhos entre várias cidades, ao longo do nosso eixo, com o nosso
aeroporto.
Também há o Projeto da construção da Linha da Copa do metrô. E, ao
mesmo tempo, existe, em Porto Alegre, o Projeto dos Portais da Cidade, que está
sendo, neste momento, revisto e relido, vamos colocar “reengenheirado”, para
atender uma dimensão diferente do que a pensada originalmente, de tal forma que
ele venha a propiciar condições interessantes do ponto de vista de resgatar
aquela questão toda do Centro como eu estava falando para vocês, pois o Centro
como um grande depósito de ônibus é algo que nós não encontramos mais nas
cidades civilizadas deste nosso planeta.
Em relação ao transporte não motorizado, temos também iniciativas
interessantes. Eu já falei do Plano Cicloviário de Porto Alegre, da importância
de desenvolvermos o estacionamento das bicicletas e da campanha que agora se
abre no Município pelas faixas de seguranças e pelos pedestres. Penso que a
foto mais emblemática de faixa de segurança é essa do disco dos Beatles. Só quero
lhes deixar atentos para o seguinte: vocês, obviamente, não são técnicos da
área, mas o interessante é olhar as fotos recentes desse local e as fotos
daquela época. Isso é tipicamente tecnologia de travessia de faixas nos anos
70, na Inglaterra. E é interessante pegar essa mesma intercessão e ver as fotos
mais recentes para perceber como as faixas de segurança também evoluem no tempo
e como novas tecnologias depois aparecem. Uma vez que isso “pega” e que as
pessoas começam a usar, tem muita engenharia para ser colocada sobre isso. Isso
nada mais é, considerando o passado e a situação atual, do que a ideia da faixa
em si, mas a tecnologia no entorno mudou tudo, desde a iluminação até a
sinalização, até a própria pavimentação e a altura dessas faixas.
Talvez o mais importante em transporte seja dizer a vocês que não
existe nenhuma mudança que tenha sido feita na mobilidade, em qualquer lugar
deste planeta, que tenha agradado a todos; aqui não há nenhum consenso.
Qualquer mudança consensual é mínima e, por ser mínima, não resolve problema
algum. Então o que nós estamos falando aqui é de enfrentamentos.
Em termos de recomendações sobre o que buscar e sobre o que fazer em
Porto Alegre, está mais do que evidente que precisamos de continuidade nas
nossas ações, e o Instituto de Planejamento está indo muito bem nesse sentido,
assim como outros tantos lugares do planeta que avançaram muito na mobilidade
graças à continuidade, e talvez o exemplo mais próximo, de novo, seja Curitiba,
mas, infelizmente, Curitiba está para o Brasil como Barcelona está para a
Espanha; são ótimos exemplos em âmbito internacional, mas, no país, muitas
vezes “o santo de casa não faz milagres”. Temos, muito próximos, bons exemplos.
Deve haver uma sinergia entre Município, Estado e União, e talvez eu
acrescentasse a iniciativa privada nesses efeitos, porque esses são os pacotes
de mobilidade que nós encontramos como solução no planeta; um incentivo ao
transporte não motorizado que, de certa forma, já coloquei - há muitos ganhos
que podemos ter na alimentação do transporte coletivo com o transporte não
motorizado. E lembrem-se, senhores, que a maior parte dos deslocamentos urbanos
tem menos de 7km, e menos de 7km é uma distância fantástica para a gente
realizar por meio de bicicleta. Essa é uma oportunidade enorme que temos, mas
não, obviamente, na condição atual, porque ninguém vai ter coragem de andar de
bicicleta no meio do tráfego que temos hoje, num espaço dominado pelos
automóveis. E outra coisa é a racionalização do transporte coletivo de novo,
para nós resgatarmos o Centro da Cidade e voltarmos a tê-lo como o segundo
bairro dos nossos habitantes.
Precisamos entender, também, o importante papel do transporte no
planejamento do uso do solo - e ali existe um exemplo, um desenho feito pelo
Ziraldo para um livro que fizemos no passado, e, ali, vocês veem a cidade
transportada na superfície pelos ônibus. E esse é o caso brasileiro. Se
olharmos os deslocamentos no Brasil, 95% de todo o deslocamento urbano
realizado é sobre ônibus. Então os ônibus são os veículos de superfície que
transportam as pessoas.
Nós precisamos de uma rede estruturada integrada de transporte coletivo
que seja não só metrô-ônibus, ônibus-trem suburbano, mas que seja também não
motorizado, uma rede que contemple o não motorizado.
Nós precisamos separar a posse do uso do carro. Nada contra quem tem
carro, e todos nós gostaríamos de ter e teremos carros, mas a questão é quando
usarmos esse carro. Precisamos usar esse carro com certa parcimônia. E se
quisermos usar o carro nos momentos mais congestionados, por que não contribuir
um pouco para uma melhoria do transporte coletivo não motorizado, através de
taxação?
E nós precisamos olhar para fora de Porto Alegre. Os exemplos, hoje, no
mundo, são enormes. Já mencionei os sites disponíveis sobre mobilidade
sustentável. Existem várias redes e organizações sobre o assunto e milhares de
bons exemplos no planeta, em diferentes locais, de fantásticas soluções e que
são perfeitamente transferíveis para a nossa realidade.
Soluções para Porto Alegre: mais mobilidade. Mais mobilidade passa, necessariamente, por uma rede estruturada e integrada de transporte coletivo e não motorizada. O caminho é esse.
O que me
tocou nessas discussões, ao coordenar, foram as questões de desenvolvimento
econômico. Eu venho de uma ciência que é muito áspera, mas gostaria de, nessa
aspereza da minha ciência - Ciências Econômicas -, trazer um pouco de reflexão
sobre o papel das metrópoles hoje, no Século XXI, o papel pós-crise, e sobre
quais são as oportunidades que se abrem para Porto Alegre já há muito tempo,
inclusive, e sobre os nossos desafios. E eu começaria falando um pouco sobre o
paradoxo locacional da sociedade do conhecimento, da economia do conhecimento.
Na realidade, nós estamos hoje numa situação, do ponto de vista
tecnológico, em que poderíamos produzir, trabalhar, morar onde nós bem
entendêssemos. Entretanto, conforme se foi avançando nessa nova formatação da
economia mundial, verificou-se que houve uma tendência das atividades
econômicas, especialmente aquelas que trabalham com o imaterial, trabalham com
o conhecimento, de se aglomerarem. Então nós temos um verdadeiro paradoxo.
Todos devem se lembrar das análises prospectivas que foram feitas há trinta
anos, que já falavam disto, de que nós poderíamos trabalhar em casa e nos
comunicar, via computador, com qualquer lugar; se descobriu que, ao contrário
disso, esse tipo de atividade, a atividade do imaterial - e nós estamos numa
sociedade de serviços, aqui nesta Cidade, que trabalha exatamente com o imaterial
-, ao mesmo tempo em que nós poderíamos fazer em qualquer lugar, nós temos esse
paradoxo da aglomeração. E, na realidade, essa aglomeração procura alguns
lugares que têm aquilo que a gente chama de economias externas, ou seja, tudo
aquilo que diminui o custo interno da empresa, e também o ambiente cosmopolita,
o ambiente de alta qualificação de mão de obra e assim por diante. E, por
acaso, esse tipo de ambiente se encontra nas metrópoles.
Apesar de nós acabarmos de ouvir falar sobre a questão do congestionamento,
a partir desse mote, dessa visão que ficou muito clara a partir do aumento da
motorização, que resultou de um aumento de renda, principalmente em torno dos
anos 70, as nossas grandes metrópoles eram vistas como um
objeto muito complicado, cujo futuro era muito sombrio por conta do
congestionamento, por conta da insegurança, por conta da pauperização.
Entretanto, nessa nova fase da economia
mundial, o que se vê é que essa metrópole renasce em cima daquilo que
pré-existia dentro dela, porque, quando nós vamos ver as condições de
desenvolvimento dessa economia baseada muito no serviço, muito no imaterial,
muito no conhecimento, nós vamos verificar que são as condições pré-existentes
nas grandes cidades que dão substrato a esse tipo de atividade. E que condições
são essas? São as condições, por exemplo, da presença de instituições de ensino
e pesquisa, da presença de toda uma infraestrutura de finanças já estabelecida,
da presença - reforçando-se isso - do Governo e também de todas as
infraestruturas, especialmente as infraestruturas de informação e comunicação.
Se olharmos o mapa do Brasil hoje, vamos
verificar que a Rede Nacional de Pesquisa, que é responsável por uma parte
importante da difusão e do transporte de informações no País, está baseada nas
grandes cidades, ou seja, nós assistimos a um renascimento das metrópoles. O
mais interessante desse mecanismo de renascimento é que os próprios negócios -
se pensava, nos anos 80, que procurariam as localidades menores, que
procurariam o Interior, como no caso da Itália, que foi extremamente estudado,
“badalado” - se me permitem -, a empresa que trabalha com o conhecimento,
procura a grande cidade, ela tem preferência pela área metropolitana. Isso,
simplesmente - porque a área metropolitana, por conta da possibilidade de
trazer economias externas, ou seja, a bacia de pessoal qualificado, o instituto
de pesquisa ali ao lado, o banco, que está mais adiante -, faz com que o risco
dessas empresas diminua, e, em fazendo isso, ela se sente mais adequadamente atendida num
grande centro do que num pequeno centro.
Esse renascimento faz com que a ideia que se tinha antes, de as
metrópoles serem entendidas como um polo, e cidades que gravitavam em torno
desse polo, seja paulatinamente abandonada em todo o mundo. A Região
Metropolitana de Porto Alegre, como já foi dito, é extremamente importante que
seja planejada: Porto Alegre e a Região Metropolitana; Região Metropolitana e
Porto Alegre, nós já nascemos assim, e isso tem enorme interesse para nós,
porque nossa Região já nasceu nesse novo formato que vem sendo analisado no
mundo todo, que é o formato de uma rede policêntrica. E essa rede policêntrica
pode muito melhor distribuir as questões de mobilidade, pode muito melhor
distribuir e planejar, de maneira mais adequada, as questões de
sustentabilidade.
No nosso caso, na nossa Região Metropolitana, nós temos, pela sua
estruturação histórica, três vetores muito claros. Na realidade, são dois
vetores e um ponto. Nós tivemos, a partir da abertura da BR-116, um deslocamento
e o início da desindustrialização de Porto Alegre em direção ao norte da
região. Esse norte da região é, portanto, de uma industrialização mais antiga,
de cidades estruturadas, às quais correspondem uma população com maior
escolaridade, maior do que a média do Estado. Setores como o de calçados
passam, todos sabem, por problemas, mas nós temos toda uma indústria
metal-mecânica, que é extremamente forte e que não resultou só desse
deslocamento de Porto Alegre para o norte, mas que atraiu muitos investimentos
tanto locais quanto estrangeiros.
Esse espaço do vetor Norte é um espaço que tende a crescer talvez menos
do que cresceu lá nos anos 60 e 70; ele vai continuar crescendo, mas vai
crescer com mais produtividade, ou seja, não dá para esperar que o setor de
calçados recupere o que perdeu em termos de emprego, recupere o que perdeu em
termos de estabelecimentos; entretanto, o próprio reposicionamento dessas
empresas na sua cadeia de valor - que é uma cadeia de valor mundial - deixa
prever - se pode antever - que haverá um crescimento menor em termos de
emprego, mas com maior produtividade. Isso significa maior renda.
Nós temos o vetor Leste-Oeste, que é um vetor mais novo na região. Nós
lembramos que os Municípios originais da região são basicamente localizados no
vetor Norte. O vetor Leste-Oeste se estruturou e se consolidou a partir da
construção da BR-290. E aí nós temos um misto de cidades-dormitório com cidades
que têm uma estrutura de caráter muito mais rural, que são as do extremo - por
exemplo, a cidade do Prefeito Daiçon, Santo Antônio da Patrulha, lá no extremo
-, e, no outro extremo, nós temos São Jerônimo. Esse eixo Leste-Oeste é um eixo
cuja expansão se pode pensar que seja a expansão feita com grandes
empreendimentos, mas com baixo ou médio valor agregado em termos de tecnologia,
típico, por exemplo, da própria estrutura da indústria automobilística.
E temos Porto Alegre, que é o centro dessa região, é um centro que, na
realidade, fica numa ponta - e a gente não pode se esquecer disso em termos do
planejamento de Porto Alegre dentro da Região Metropolitana -, está um pouco
fora da curva da nossa região. E por que é um pouco fora da curva? Porque a
população de Porto Alegre tem, em primeiro lugar, uma escolaridade extremamente
importante. Nós temos uma participação de pessoal, de pessoas que estudam, que
estão no Ensino Superior ou que já são diplomadas, extremamente importante e
que está no mesmo patamar de muitos países desenvolvidos. Ao mesmo tempo, nós
temos algumas infraestrutras que vêm da nossa história e que permitem pensar em
Porto Alegre mantendo o nível de empregos - essa foi uma análise feita pela
Metroplan há algum tempo, há três anos -, e, inclusive, diminuindo a quantidade
de empregos, mas nem por isso diminuirá, segundo as previsões, o seu produto e
a sua renda pessoal. E isso, por quê? Porque, cada vez mais, Porto Alegre se
volta para setores de maior agregado de valor - agregado de conhecimento e
agregado de valor. Então, o que se pode pensar para Porto Alegre - e esse ponto
não é um vetor - é a continuidade de prestação de serviços às empresas -
depois, veremos isso com mais detalhes -, a questão dos serviços de Saúde, e eu
vejo aqui o Ver. Adeli Sell, que batalhou, um tempo atrás, para que realmente
avançássemos na estruturação desse polo saúde de uma maneira ampla, incluindo
não só a assistência como também a produção e o próprio turismo -; as empresas
de alta tecnologia e os setores de criação, como o design, artes, jogos eletrônicos, publicidade e assim por diante.
Então, vamos ver as oportunidades da nossa Cidade dentro,
principalmente, dessas áreas. A primeira delas, sem dúvida alguma, são as
oportunidades que vêm da área de serviços. Porto Alegre é uma cidade terciária
há muito tempo. Hoje esse setor responde por 86% do valor agregado bruto da
Cidade. Mas não podemos esquecer de que lá, em 1939, já era 76%. Então a nossa
Cidade nasceu assim, a base dela foi o entreposto, ser entreposto comercial,
ser a articulação entre a agricultura colonial do Norte e a pecuária, a agricultura
do arroz da Depressão Central e do resto da metade Sul. Esses serviços, nós
podemos caracterizar; por exemplo, 60% das agências bancárias da Região
Metropolitana de Porto Alegre estão em Porto Alegre, ou seja, existe uma
centralização enorme da parte financeira no Município de Porto Alegre em
relação à região.
Quanto à questão de assistência à saúde, nós temos, talvez, o segundo
polo em assistência à saúde do ponto de vista de ser o mais completo, o mais
complexo de todo o Brasil, e isso significa que essa assistência à saúde
funciona como um atrativo não só para a Região Metropolitana - basta a gente
passar perto dos nossos hospitais públicos para ver a quantidade de
ambulâncias, ônibus e etc. que vêm de todo o Estado. E isso é área de serviços.
Não podemos esquecer também das nossas universidades e de todo o nosso
Ensino Superior - e aqui chamo a atenção para duas instituições, que são nossas
duas maiores instituições na Cidade: uma, a minha, que é a Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, que é uma das cinco melhores universidades do País em
termos de pesquisa, em termos de avaliação dos seus cursos de pós-graduação e
de graduação, e que também, hoje, já está entre as 500 melhores do mundo nesses
rankings que aparecem e que são levados muito em conta; e temos a PUC,
que é a melhor universidade privada, ou particular, do País em termos de
pesquisa, ou seja, esse conjunto de instituições do Ensino Superior que temos
em Porto Alegre não só presta serviços à comunidade, às empresas, como é um dos
grandes geradores de agregação de valor à nossa Cidade.
Finalmente, não dá para esquecer de que esse caráter de metrópole
regional-nacional que tem Porto Alegre faz com que sua área de influência
abranja 733 Municípios e mais de 15 milhões de pessoas. Levando-se em conta que
o nosso Estado tem entre 10 e 11 milhões de pessoas, temos pelo menos 4 milhões
de pessoas que estão na área de influência da nossa Cidade e que estão fora do
Rio Grande do Sul. Isso tem um significado, em termos de estrutura de
localização dos serviços, extremamente importante, porque, junto com essa vasta
área de influência, vêm aquelas infraestruturas de informação de que eu falei
anteriormente, vêm sedes de empresas, vem a questão dos bancos, vem a própria
formação de pessoal.
A outra
oportunidade são os negócios de alta tecnologia. Um instituto que está baseado
em Belo Horizonte vem fazendo uma análise de onde está a inovação no Brasil.
Eles já fizeram dois exercícios, de 2004 até agora, e, nesses dois exercícios,
Porto Alegre aparece como um centro econômico diferenciado. O que é que
significa isso? Significa que a nossa Cidade, ao mesmo tempo em que tem
importância econômica dentro do País, agrega também importância em termos de
ciência e tecnologia. E essa importância é medida pelo pessoal qualificado, ou
seja, pelo número de pesquisadores, doutores, mestres e de outros pesquisadores
em relação à população total, e também pela transferência de tecnologia que é
feita. Entre as grandes metrópoles do Brasil, Porto Alegre está sozinha nesse quadrante
de centro econômico diferenciado. E isso ainda é pouco utilizado por nós. Nós
não temos consciência desse enorme potencial que temos nessa área.
Um outro dado que é extremamente importante -
e por isso o fato de planejar Porto Alegre junto com a Região Metropolitana - é
que, na Região Metropolitana de Porto Alegre, nós temos 72% do valor agregado
bruto de todos os setores de alta tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul, ou
seja, mais de dois terços de tudo o que é feito em termos de alto valor agregado
de tecnologia estão na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Temos um outro dado: um estudo recente da
FEE, sobre o setor de tecnologia da informação, dá conta de que 53% de todo o
emprego formal em tecnologia da informação do Estado está no Município de Porto
Alegre, ou seja, se quisermos falar sobre tecnologia da
informação no Estado do Rio Grande do Sul, devemos olhar com muito cuidado para
Porto Alegre e também para a Região Metropolitana.
Desde 1994, uma série de parceiros - e o
colega Benamy vai falar, mais adiante, sobre um projeto, sobre o qual nós nos
debruçamos durante algum tempo -, um conjunto de atores de instituições-chave
no Município de Porto Alegre e na Região Metropolitana - a Unisinos estava
junto - criou uma rede que buscava consolidar o empreendedorismo de base
tecnológica na nossa Região Metropolitana.
A respeito do resultado que nós temos hoje,
eu chamo a atenção para o Inovapoa, que é fruto desse esforço e desse trabalho
que vem sendo feito desde 1994. Os parceiros do Porto Alegre Tecnópole, o nome
que foi dado a esse Projeto, estão hoje todos no Comset - a Professora Rita,
que está aqui, preside o Conselho -; estão todos no Conselho. Ou seja, o
Conselho é forte como Conselho, exatamente porque, há muito tempo, vem-se
criando essa estrutura em rede em instituições, o que tornou muito fácil, por
exemplo, a conquista do Ceitec, que hoje é uma realidade, quando foram
mobilizados todos os parceiros pertinentes e que realmente poderiam mover essa
roda. Foi muito fácil, exatamente porque, desde 1994, se constrói essa rede, e
é uma rede que não se perde.
E, finalmente, como resultado desse esforço
do Porto Alegre Tecnópole, dessa rede que continua existindo dentro do Comset,
a Cidade hoje tem uma série de incubadoras de empresas ligadas às
universidades, aos centros de pesquisa, e hoje tem o Tecnopuc, que é o Parque
Tecnológico de melhor desempenho e considerado marco dessa área em todo o
Brasil, e eu diria até da América Latina. Então, em negócios de alta
tecnologia, essa é uma das oportunidades que nós temos. Talvez a gente tenha,
até agora, aproveitado ou concretizado oportunidades numa parte muito pequena
desse potencial todo que nós temos.
Eu fiquei extremamente satisfeita em ver que
o Secretário Tatsch está gestionando a inclusão de Porto Alegre num programa da
UNESCO, sobre as cidades criativas - aqui, na América Latina, nós temos,
praticamente, só Buenos Aires na área de design -, porque a nossa
Cidade, hoje, tem um setor que funciona como um arranjo produtivo local e que é
praticamente desconhecido de todo o mundo. Nós não nos damos conta da
existência, de maneira geral, desse setor como um arranjo produtivo e da
importância que ele possa ter em termos de geração de emprego e renda e também
de reestruturação urbana.
Esse setor é muito novo; ele surgiu como
estrutura, com uma feição, com peculiaridades, na Inglaterra, há cerca de dez
anos. E esses setores que formam esse núcleo criativo vão das artes cênicas às
artes visuais, e também à TV, ao rádio, ao jornal, ou seja, tudo o que diz
respeito a atividades baseadas na habilidade, no conhecimento, pontos em que a
propriedade intelectual tem importância como agregação de valor.
Temos alguns dados que mostram que nós, aqui em Porto Alegre, em 2007,
tínhamos 18 mil empregos formais nessa área. Se nós levarmos em conta que Porto
Alegre cria quase um milhão de postos de trabalho, entre formal e informal,
parece pouco, mas, de todo o emprego formal da Cidade, isso significa 3%. Nós
sabemos que uma parte importante desse setor criativo vive na informalidade ou
vive de contratos temporários. Se nós pensarmos artes cênicas, artes visuais,
dezoito mil empregos formalizados nessa área é algo que dá para fazer pensar na
possibilidade de um aumento bastante grande nessa área. Pelo tamanho médio de todos os
estabelecimentos no Brasil, eles comportam, mais ou menos, cinco pessoas por
estabelecimento, mas, na nossa Cidade, nós temos, nesse setor criativo, mais de
13 pessoas por estabelecimento. Isso tem um significado também, porque os
estabelecimentos, portanto, são de maior porte. Aqueles que são formalizados,
as empresas de publicidade, a TV, o rádio, o jornal, etc., são empresas de um
porte importante.
E nós temos equipamentos que dão suporte a
uma parte, principalmente à parte que a gente chama de artes visuais, cênicas,
etc., extremamente importante na Cidade. Se nós verificarmos e fizermos uma
comparação com outros grandes centros, como Rio de Janeiro, que é o maior
centro do setor criativo no Brasil, ou Recife, ou São Paulo, veremos que não
estamos levando em conta a comparação população/equipamentos; nós estamos até
muito bem. Nós temos muitas bibliotecas, temos mais de vinte salas de teatro e
assim por diante. Então existem os equipamentos, existe já um setor que, às
vezes, não é identificado como tal, e existem algumas ações que são antigas
nessa área como, por exemplo, o Fundo de Incentivo à Cultura, que, no nosso
caso, já data da década de 70. Entretanto, o que nós não temos é a integração
desse setor numa estratégia de desenvolvimento econômico.
Então, podemos verificar que a cultura, não
o setor criativo como um todo, é entendida como uma das suas faces no nosso
Município, que é a face da inclusão, que é extremamente importante, mas que é
uma das faces desse setor; tem a outra face ,que é a geração de emprego e renda
e o papel que esse setor pode ter em todo o esforço de restauração de áreas
degradadas no nosso Município.
E finalmente, quando ao setor Turismo,
tivemos o Seminário sobre desenvolvimento econômico, no ano passado, com a
apresentação do planejamento estratégico do turismo de Porto Alegre. O Turismo
é um setor que já é visto, até porque os dados nacionais são mais conhecidos
também. Sabemos que o PIB do setor de Turismo no Brasil é em torno de 132
bilhões de reais; Porto Alegre é o sexto destino turístico do País; isso
significa que nós temos uma parte substancial desses 132 bilhões. Ao mesmo
tempo, sabemos que o nosso é um turismo ligado a negócios, a convenções e assim
por diante; em torno de 50% dos turistas, sejam estrangeiros ou nacionais, que
visitam a nossa Cidade, visitam-na por negócios ou para algum evento. É
evidente que turismo e setor criativo se entrelaçam, porque o turista fica mais
tempo na nossa Cidade se ele a conhecer, se estiverem divulgados os pontos
culturais aos quais ele possa ir. Aí eu peço atenção para dois eventos que já
chamam esse turista: o Porto Alegre em Cena, que começa na semana que vem, e a
Bienal do Mercosul. Esses são dois pontos de extravasamento desse setor
criativo, que, lá adiante, se liga ao turismo.
Então, temos potencial em todas as áreas que
são consideradas motoras dessa sociedade do conhecimento e que têm grande
possibilidade de criar empregos a um custo menor e descentralizado. Essa foi
uma das questões tratadas na oficina que seguiu a apresentação, digamos, mais
formal da palestra, ou do painel, sobre desenvolvimento econômico, no ano
passado, e, quando a população participou, através dessa oficina, ficou muito
clara a necessidade de descentralização, dentro de Porto Alegre, dessas atividades.
Então, nós trazemos a ideia de Região Metropolitana policêntrica para um
Município também policêntrico.
Finalmente, eu vou falar dos desafios,
encerrando a minha participação. Os desafios são muitos; eles são antigos. Se
nós levarmos em conta que a Inovapoa começou a ser gestada em 1994, nós levamos 15 anos,
praticamente, para concretizá-la. Nós não temos mais a veleidade de ter tempo
desse jeito - tempo é recurso escasso. Nós precisamos ser mais ágeis e, para
isso, precisamos planejar. Como disse o Prefeito, na nossa abertura, planejar,
mas planejar do jeito que a gente sempre fez nesta Cidade, de forma
democrática, e não só a curto e médio prazos; nós precisamos planejar a longo
prazo. E, para planejar, precisamos fazer prospectiva, e, para fazer prospectiva,
precisamos ter dedicação de pessoas e estrutura. Esse planejar deve ser “na” e
“com” a Região Metropolitana. Não há como dissociar - e isso foi bem lembrado
no Seminário do ano passado - o desenvolvimento de Porto Alegre do da Região
Metropolitana. Existe um vaivém, e é só olharmos qualquer um dos mapas que se
fazem em termos de movimentos pendulares para ver o emaranhado que há entre as
pessoas que saem de Porto Alegre - calcula-se que sejam cem mil pessoas que
saem todos os dias para trabalhar - e as outras 400 mil que entram na Cidade
para trabalhar também. Então não existe como dissociar esses territórios, não
existe como pensarmos simplesmente em Porto Alegre.
A outra questão é integrar esses setores. Esses elementos que são
portadores de oportunidades, portadores de possibilidades de mantermos
empregos, de dar renda a toda a nossa população, não podem estar desintegrados.
Não há como olhar, de um lado, os serviços, quando vemos que boa parte dos
setores criativos está integrada nesses serviços - são serviços.
Também uma questão que precisa ser construída, como o Prefeito falou -
eu acho extremamente interessante a frase, porque é uma frase que tem um efeito
muito grande -, é nós não nos deixarmos ser prisioneiros do passado, comandados
pelo passado, ou seja, nós precisamos planejar, olhar, entender e identificar
essas nossas potencialidades. E eu chamaria a atenção, de novo, para a questão
do setor criativo na nossa Cidade, que é extremamente importante. Nós temos
enormes potencialidades, mas precisamos de estratégia para isso, e só teremos
estratégia se integrarmos as atividades preexistentes - aquelas que a gente não
vê, aquela de baixíssimo agregado tecnológico de conhecimento e aquela de alto
agregado de conhecimento - ao todo harmônico e pensarmos na localização disso
tudo dentro da nossa Cidade, dentro da região.
E,
finalmente, falo sobre a construção da imagem. Lá no planejamento estratégico
do Turismo, falávamos na construção da imagem a partir da qualidade de vida de
Porto Alegre. Eu gostaria de acrescentar a essa qualidade de vida a construção
da imagem de Porto Alegre, a sua promoção via agregação de nossos capitais. O
capital humano que nós temos, se olharmos as estatísticas nacionais ou mesmo
latino-americanas, é realmente um manancial de pessoal altamente qualificado,
com alta escolaridade. O nosso capital social foi construído através de todos
os movimentos que temos de participação, e isso ninguém nos tira mais. A gente
vê esses movimentos, como o do Porto Alegre Tecnópole, que é uma coisa que
parece elitista, etc. e tal, mas que sempre teve a ideia e sempre teve como
objetivo não ter uma sociedade a dupla velocidade, ou seja, desenvolver setores
de alta tecnologia e, ao mesmo tempo, utilizar essa tecnologia para a solução
de problemas sociais, o que hoje se chama - na época não se chamava de nada,
simplesmente de ideia - de tecnologias sociais. Então, esse capital social,
aliado ao capital humano que nós temos e aliado ao capital em ciência e
tecnologia que esta Cidade tem também é invejável - não quero falar de novo nas
nossas duas principais universidades, mas, estendo para a região, temos a
Unisinos, temos a Ulbra, o La Salle, a Fapa, enfim, nós temos um conjunto
enorme de infraestrutura em ciência e tecnologia que precisa fazer parte dessa
imagem da Cidade.
Encerrando, eu quero lembrar as palavras do Profº Jorge Audi, que é da
PUC e que foi um dos primeiros dirigentes do Parque Tecnológico da PUC. Ele
sempre diz que, quando ele vai promover o Parque - o Tecnopuc -, ele não promove
o Tecnopuc como da PUC, ele promove o Tecnopuc como um instrumento de
desenvolvimento localizado dentro da PUC e que pode acessar todo esse manancial
de conhecimento, a qualidade de vida da nossa Cidade, da nossa Região
Metropolitana e assim por diante. E é nisto que nós precisamos avançar, nessa
construção da imagem da nossa Cidade. Era isso, e eu agradeço a oportunidade.
Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisado pela oradora.)
O SR. COORDENADOR (João
Carlos Brum Torres): Muito obrigado, Maria Alice. Nós vamos fazer uma brevíssima
interrupção, para que seja celebrado o ato de transmissão do cargo de
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, tendo em vista a viagem do
Prefeito Fogaça.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola):
Interrompemos este evento para a cerimônia de transmissão do cargo do
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre ao Sr. Ver. Adeli Sell, em face
do afastamento do Sr. Prefeito Municipal nos dias 03 e 04 de setembro de 2009 e
sua substituição pelo Presidente desta Casa, Ver. Sebastião Melo.
Convidamos para a assinatura do livro o Sr. Ver. Sebastião Melo e o Sr.
Ver. Adeli Sell. (Palmas.)
(Procede-se à transmissão do cargo de Presidente da Câmara Municipal de
Porto Alegre ao Ver. Adeli Sell.) (Palmas.)
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS
(José Luís Espíndola): Retomamos os trabalhos do Fórum Porto Alegre, uma visão de futuro.
O SR. COORDENADOR (João
Carlos Brum Torres): Aproveito para saudar o Prefeito em exercício, Ver. Sebastião Melo, e o
Presidente da Casa, em exercício, Ver. Adeli Sell.
Antes de passar a palavra ao nosso próximo painelista, o Arquiteto
Francisconi, e como nós não estamos tendo debate, eu só queria fazer uma
manifestação sobre as duas exposições que nós ouvimos até agora. O Lindau nos
fez essa advertência muito firme, quase áspera, com relação ao grau de
gravidade que tem a questão da mobilidade urbana, quando a gente tem uma matriz
de transporte que enfatiza o uso do automóvel como instrumento principal.
Obviamente esse é um assunto bastante polêmico, interfere na nossa vida
cotidiana, mas essa é a função que um debate como o que a gente promoveu
justamente pretendia, isto é, fazer um debate sobre questões vivas, que, na
verdade, interferem na nossa vida cotidiana.
A Maria Alice fez essa exposição detalhada, importante, chamando
atenção para as novidades, para as potencialidades que Porto Alegre tem e
“pondo o dedo” em certas potencialidades que “estão no nosso nariz” e que a
gente não enxerga. Essa ideia de que as atividades criativas têm um grande
potencial e que é uma ideia antiga, velha, querer restaurar para Porto Alegre
um futuro industrial, exceto se a gente se concentrar nas áreas novas,
densamente armadas com a tecnologia, é também uma advertência e um chamamento
para que a gente abra os olhos. Eu acho que a oportunidade e a qualidade das
intervenções ficaram bem claras nessas duas manifestações que foram feitas até
agora.
Eu passo, então, a palavra ao Francisconi, que vai tratar do tema do
urbanismo sustentável. Eu estou me dispensando de fazer uma apresentação
detalhada dos nossos conferencistas, porque eles são sobejamente conhecidos no
nosso meio, mas o Francisconi é um dos grandes planejadores urbanos do Brasil,
foi Presidente da EBTU, exerceu cargos nas melhores universidades do Brasil, em
Porto Alegre, em Brasília, enfim, me dispenso de fazer apresentação detalhada.
O SR. JORGE GUILHERME FRANCISCONI: Obrigado, Profº Brum. Eu sou
o único Coordenador que não mora em Porto Alegre, e isso me dá uma dupla
responsabilidade. Eu queria dar os parabéns ao Vereador-Presidente Sebastião
Melo pela iniciativa. Eu acho que esta é uma das poucas Câmaras de Vereadores,
no Brasil, que se propõem a fazer isso, e, obviamente, o Presidente não fez
isso sozinho, teve todo o apoio dos outros Vereadores, e isso enaltece toda a
Câmara. Eu queria dar os parabéns às outras entidades, ao IAB, que está aqui
presente; ao CREA; aos meus colegas coordenadores, professores universitários.
Eu, como fundador do Propur, me sinto muito honrado em estar de volta a
esta Cidade. Também dou os parabéns aos coordenadores de oficina, ao nosso guru
técnico espiritual, orientador, João Carlos Brum Torres, aos participantes do
Fórum de 2008, que foram os que fizeram uma fermentação muito grande das ideias
que eu vou passar rapidamente - eu peço desculpa a eles -; e aos que estão aqui
presentes, porque vocês, no fundo, serão parte da construção, vocês são
artífices disso.
Eu tentarei fazer a minha apresentação em exatamente vinte minutos. E
vou dividi-la em duas partes básicas: o Seminário e o conceito de
sustentabilidade, e dez minutos só para discutir Porto Alegre - o cenário de
Porto Alegre, o futuro de Porto Alegre e como eu encaro Porto Alegre, o que,
obviamente, é um diálogo; não tem aplicação total.
Os palestrantes que vieram para o Seminário eram todos de fora, com
exceção do Arquiteto Debiaggi, que trabalhou na gestão. Então, pela área do
Meio Ambiente, veio a Secretária do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, que
discorreu sobre como o meio ambiente e o saneamento estão tratando de não ser
mais os opositores ao urbanismo, mas, sim, de órgãos transparentes que tomam
decisões rápidas e constroem a situação do meio ambiente com a população, com a
indústria e com todos os interessados. Essa é uma mudança de postura, em
relação ao meio ambiente, muito grande.
O Sérgio Magalhães, que é de Bagé e que foi Secretário de Planejamento
Urbano, candidato a Vice-Governador do Estado do Rio de Janeiro, nos deu um
dado muito curioso sobre a habitação. Ele nos mostrou a ilha de Manhattan e
chamou a atenção para o fato de a habitação, ali, conviver com várias outras
funções - comércio, lojas e tudo o que possa existir - e que, se eu pegar a
ilha de Manhattan e colocar dentro do mapa de Porto Alegre, essa é a proporção.
E aí tem uma qualidade concentrada de serviços. Ele defende a partir disso, e
comparou com Paris também - alguns já lá estiveram e gostaram ou ainda sonham
em lá chegar -, que tem todos esses elementos de turismo, de atração, população
densa, um sistema de transporte construído desde o século passado, onde tem
habitação junto com escritórios, com prestação de serviços, e é isso que a
gente acha que é o charme de Paris, mas, se eu colocar Paris no mapa de Porto
Alegre, é isso. Esse é o perímetro da cidade de Paris dentro de Porto Alegre.
Então a qualidade de vida, a intensidade e a diversidade funcional de
uma cidade são fatores fundamentais para eu dar qualidade a quem mora lá e a
quem a visita. Essa foi a mensagem do Sérgio Magalhães que foi muito discutida
e que impactou o Seminário.
Na área de regularização fundiária, pouco foi discutido. Na verdade,
para Porto Alegre ter uma situação privilegiada, os governos anteriores já
fizeram trabalhos excepcionais na regularização fundiária para pobres, mas
ainda temos 140 mil imóveis irregulares. Multipliquem por três, por quatro, por
cinco, e vocês vão ver a população que dá: quase meio milhão de habitantes.
Na Gestão Urbana, a preocupação do expositor - que aqui não é mais
exógeno; é endógeno - foi a de promover o aperfeiçoamento do gestor público,
definir regras mais claras e mudar os sistemas de fiscalização e gestão, de
maneira que o setor público e o setor privado revejam isso, e também o excesso
de burocracia e a necessidade de retreinar, principalmente na área de
Planejamento de Gestão da Cidade.
Voltando à Moradia e à Regularização Fundiária, o Sérgio Magalhães, que
foi um dos gestores do Programa Favela-Bairro, mostrou que, também no
Favela-Bairro, a habitação nunca ficou isolada do resto: nunca ficou isolada do
comércio, do serviço, do serviço médico, do serviço de saúde, de pequenos
ambientes comerciais, e que a regularização fundiária no Favela-Bairro foi
abandonada, porque a legislação que está em torno disso - eu não vou me
estender sobre esse aspecto - praticamente inviabiliza qualquer tentativa de
uma política maior para um país que tem mais de 25 milhões de pessoas morando
em favelas.
No que diz respeito às oficinas, eu destaco as oficinas, porque as
oficinas são pessoas da terra, e quem estava lá - mais de 600 pessoas
participaram desse conjunto de trabalhos - eram aqueles que estão vivendo aqui
e que queriam melhorar a condição de Porto Alegre.
Sobre o Meio Ambiente e o Saneamento Básico, foi muito curioso; o grupo
decidiu o que eles acham que está ótimo, que é a universalização da oferta de
água - e há muito projeto para meio ambiente. O programa de arborização, praças
e parques é bom; em compensação, o serviço de saneamento está muito baixo,
falta educação sanitária e falta uma identidade cultural, o que está muito
ligado ao que a Lahorgue diz, que é uma visão da pessoa com a Cidade.
Sobre a Habitação, foi curioso, eles discutiram um moto: nós temos que
pensar globalmente, nós temos que ver o mundo, mas nós temos que agir na
cidade, agir localmente.
Os estudantes reivindicam mais participação - apesar disso, há muito
poucos estudantes aqui -, necessidade de incrementar iniciativas locais, etc.,
etc. Basicamente eles disseram: a União está dando muito dinheiro, e o
Município está fazendo pouco na área da Habitação.
Sobre a Regularização Fundiária houve pouco debate.
A respeito da Gestão Urbana, o moto foi mais transparência, mais
harmonia, mais informação, gerenciamentos menos burocráticos.
As outras coisas vocês podem ler no texto; eu quero chegar ao que é
mais importante.
Nas três oficinas, apareceram muitas propostas comuns, que eu trato de
destacar. Por exemplo, tem que ter Plano Diretor Urbano para ação de médio
prazo. É necessário criar uma instituição para planejar o futuro de Porto
Alegre, que, aliás, é o tema central da proposta que foi oferecida ao Fórum.
Porto Alegre tem que ter uma Agenda 21. Porto Alegre tem que revitalizar a orla
do Guaíba; Porto Alegre tem que proibir ocupação de morro; tem que revitalizar
o Centro da Cidade e o 4º Distrito. E como a Profºª Lahorgue acabou de dizer,
tem que haver integração do planejamento do Município com o da Metrópole.
Por outro lado, é necessário fortalecer a estrutura pública, tem-se que
debater as ações prioritárias e criar um sistema de sustentabilidade que,
curiosamente, é o objeto do nosso painel.
Sobre Sustentabilidade, eu vou aqui salvar três tempos para o assunto.
É muito curioso, porque economia e ecologia têm a mesma origem; o oikos
é a minha casa, o logus da ecologia é onde eu vivo. Agora, economia: eu
tenho que administrar a minha casa, e não dá para fazer uma coisa sem a outra.
A ligação da ecologia com a economia é fundamental.
Sobre a origem da coisa, eu vou passar rápido. O ambiental pelo
ambiental começa em 1987 com aquele famoso Relatório Brundtland, que trata do
momento em que nos damos conta de que estamos acabando com as condições da
Terra. E há uma reversão completa nos procedimentos mundiais, em todos os
sentidos.
Sustentabilidade ambiental começa aqui, e depois ela é usada em dois
tipos de compreensão na política urbana. Para o Ministério das Cidades, cidade
sustentável é aquela que é para todos, e sustentável passa a ser sinônimo de
insustentável. As políticas de transporte, de habitação, de saneamento, do
Ministério das Cidades, enfatizam o insustentável. Agora, para a cidade, isso
não basta; eu não faço sustentabilidade da cidade só indo contra aquilo que é
insustentável, eu tenho que criar a cidade. Sustentabilidade é pensar o futuro,
como o Prefeito bem ressaltou e como outros que me antecederam bem ressaltaram.
Para pensar o futuro e criar a cidade sustentável, um governador de Tóquio, em
1998, colocou dois fatores e sugeriu a criação de uma ecossociedade. A
ecossociedade é tanto econômica quanto ambiental. O que é isso? Primeiro, os
fatores: “Define quais os fatores que tu queres que sejam sustentáveis em uma
ecocidade que você está trabalhando.” Ele propôs reciclagem, gestão e educação;
Porto Alegre pode escolher outros. Agora, para chegar lá, eu tenho de ter
princípios. Então ele diz: “Os fatores onde vou agir e os princípios que vou
adotar: ação. Vamos parar de pensar, fazer diagnóstico, dissecar cadáver, e
vamos começar a agir, mesmo que a gente erre.” Esse é o primeiro princípio do
japonês.
Segundo: resposta compreensível. Nós temos de colocar o setor científico,
mas o setor científico tem de trabalhar com a cidadania, com uma gestão
democrática, para ir trabalhando na construção da cidade sustentável. E tem que
haver parcerias de toda escala, de todo o nível. Não há pecador. Todo o mundo
tem de se juntar, somar, chegar a uma equação e tocar para frente. Essa é a
construção da sustentabilidade para fins de uma política urbana.
Cidade sustentável é um novo horizonte hoje, é um novo conceito de
cidade. Nós não estamos trabalhando mais com conceitos das décadas de 30 ou 40,
50, 60, 70, 80; estamos trabalhando da década de 90 para cá. E existem cidades
globais e projetos sustentáveis. Cidades como, por exemplo, Seattle, Barcelona,
Chicago, são cidades que têm muita semelhança com Porto Alegre na medida em que
são na beira de grandes espaços líquidos, grandes rios, mar, etc.
Cidade global com projeto sustentável, a mais próxima de nós é
Curitiba. Puerto Madero é um projeto sustentável; Curitiba é uma cidade
sustentável e fica a uma hora e pouco, por avião, daqui, e vale a pena fazer
uma pequena visita àquela Cidade, porque a sustentabilidade de Curitiba, como
capital ecológica ecourbana, não é um projeto, e isso é que é importante, é uma
estratégia de todo o planejamento de toda a Cidade. Eu posso dizer: “Não. Eu tenho
integração do sistema de transporte com padrões de uso e densidade urbana.”
Quando eu fiz o corredor de Curitiba, eu já decidi que, ao longo do corredor,
há mais densidade. E mostro isso numa fotografia que segue.
Se eu fizer todo o transporte urbano do mundo como quando nós
construímos o Trensurb que Canoas queria - Canoas não queria que o trem
passasse por dentro da cidade, e sim pela zona rural -, não me serve; eu tenho
de trabalhar a urbanização, e ela tem de estar junto com o transporte. Nem um,
nem outro é prioritário, mas, se os dois não andarem juntos, não dá nada. Nós
nunca conseguimos que as prefeituras aumentassem a intensidade do uso do solo
ao longo das estações do Trensurb, o que seria lógico. Qualquer cidade um pouco
mais inteligente faria, porque as pessoas iriam a pé. Então, estamos criando
exigências para as pessoas que tenham que ir de carro, no caso, não usá-lo.
O sistema
de parques lineares de Curitiba é um segundo elemento; ao invés de encanar
tudo, eles resolveram fazer córregos abertos que levam a lagos, com parques ao
redor, o que é muito melhor para efeito de saneamento e muito mais barato.
Curitiba dá para dividir em duas épocas: uma antes do Lerner, e outra depois do
Lerner, quando isso é feito.
A ciclovia é feita para mobilidade e lazer, não são trechos que começam
ali e terminam lá, sem ter estacionamento, sem ter aluguel, sem ter nada.
A cidade industrial, parque industrial e desenvolvimento de software
tecnológico é a parte econômica da oikos,
que também foi feita em grande escala.
A Universidade Livre do Meio Ambiente é um exemplo único de
universidade que pensa cidade e meio ambiente, juntos. Eu gostaria muito que os
ambientalistas começassem a promover plantações de árvores nas cidades para dar
mais sombra. Porto Alegre é uma cidade excepcional, ela tem muita árvore, mas a
maioria das cidades brasileiras não tem árvores, faz calor, e a diferença de
temperatura pode ser de 4 ou 5 graus.
Faróis de Saber são bibliotecas. A tua estatística, Lahorgue, mostrou
que há muita coisa, mas não há uma política de disseminação de bibliotecas para
que as pessoas possam ter um bom acesso. E os projetos habitacionais de
regularização fundiária foram uma relação público-privada muito
bem-incentivada, ligada a transporte, etc.
Então, quando eu falo numa cidade sustentável, não estou falando em um
projeto ou em outro, estou falando em um conjunto que é concretizado num plano
diretor que é discutido pela população e que são os Vereadores que aprovam, e o
Prefeito tem que executar. Essa é a condição. Então, um planejamento
estratégico só dá bons resultados se ele for acompanhado de governança
democrática.
Eu peguei essas fotos de Curitiba só para mostrar que, onde estão esses
prédios estão os corredores, e as casas foram preservadas. Eu então não faço
aquela degenerada construção de prédios no meio de áreas habitacionais, como se
vê hoje em Porto Alegre.
Com relação aos parques, ocorre recolhimento de água, lazer, mas está
junto à alta densidade em torno dos corredores, e há todo um projeto de lazer,
arte, bem-estar que foi desenvolvido com ele. Isso é Curitiba.
A minha meta não é discutir sobre Curitiba; é discutir sobre Porto
Alegre. Quer dizer, parto do princípio de que estamos aqui querendo produzir
uma Porto Alegre melhor. Se alguém que estiver de acordo com isso, tudo o que
eu disser a seguir pode ser esquecido. Pressuponho que posso construir um
futuro melhor, diferente do atual, com gestão democrática - é o pressuposto
básico da construção de uma Porto Alegre do futuro.
Com relação ao nosso potencial interurbano, eu não vou repetir o que a
Lahorgue disse, o que foi dito nesta Mesa, porque vocês sabem. Agora, eu vou
levantar o potencial regional e internacional: a quantidade de pessoas que vai
fazer turismo em Gramado, Canela, Serra gaúcha, Bento, Caxias e vem para Esteio
que não descem em Porto Alegre, porque Porto Alegre não tem nada para oferecer,
é muito grande! Agora, a Serra gaúcha é fruto de 25 anos ou mais de
planejamento estratégico. Aqueles caras, lá de cima, reuniram o setor privado,
o setor público, quem pensa e quem não pensa, e construíram algo que é,
economicamente, um espanto, vocês podem, em uma hora, ir ali e voltar.
Ontem, à noite, eu tive uma discussão fantástica a respeito de como a
classe média brasileira de São Paulo, Brasília, Rio, etc., vem à Serra gaúcha e
encontra um mundo que lá as pessoas chamam de europeu. Um médico cardiologista
foi a Campos do Jordão e disse que o lugar é uma esculhambação perto da Serra
gaúcha. Então, sem qualquer dúvida, há potenciais ainda a serem explorados.
A Professora Lahorgue falou nos vários cenários: cultural, científico,
etc. Eu, como urbanista, só sei trabalhar no cenário territorial. Isso é Porto
Alegre. (Mostra foto.) Isso está sendo oferecido para nós, para ser projetado,
trabalhado, melhorado, aperfeiçoado ou deturpado e degenerado. É decisão nossa!
E eu vou mostrar um pouco do que estamos fazendo hoje. Por exemplo, esta foto
maravilhosa da Wikipédia - aliás, todas aquelas fotos de Curitiba são da
Wikipédia, que é um grande e promissor centro de informações - é uma foto
belíssima que, obviamente, um único cidadão de Porto Alegre que atravessou o
rio, pegou um barquinho, fez; só ele a está curtindo, e nós estamos curtindo
foto, não estamos curtindo a realidade, mas o que se vê na foto é um tecido
necrosado. Esse Porto é um tecido necrosado há décadas; ele, ao invés de ser um
tecido integrado a uma coisa viva, que é a Cidade, é um tecido necrosado que
precisa de recuperação urgente. Essa área toda nossa,
em frente ao estádio do Colorado, precisa ser melhor trabalhada, é um tecido
necrosado também! Se eu fizer a foto de toda a orla... Falo da orla como uma
ação estratégica, assim como outras; acho que o bairro Moinhos de Vento merece
uma ação estratégica; outros bairros merecem planejamento estratégico como
outros setores também, mas eu falo da orla, porque, inclusive, a Copa do Mundo
vem aí. Na Copa do Mundo, vocês verão o que acontecerá com o estádio do
Colorado, que ontem ganhou de 3 x 0. Sou colorado, estou muito feliz, mas tenho
muito medo de que os gremistas queiram fazer outro estádio ali em frente ao
Prado. Isso tudo é necrose, não serve para nada para a Cidade - rigorosamente
para nada!
O mais necrosado de tudo é, inclusive,
pensar que a praça - na Rua Gen. Canabarro - poderia abrir. Aqui estamos na
Usina do Gasômetro, e toda essa área poderia ser trabalhada com um paisagismo
fantástico, valorizando o Museu do Gasômetro, valorizando o acesso de toda a
população ao rio. Isso não serve para nada, há uma muralha ao redor, tem um
único localzinho atrás, e alguns jovens me dizem que, de vez em quando, vão
assistir ao pôr-do-sol do Guaíba, no bar. Então estou com um potencial
fantástico!
Vou
trabalhar apenas na orla para falar da área de Programa Estratégico. O que a
orla precisa hoje? Precisa de um plano estratégico. Não adianta ficar
discutindo projeto pontual: “Eu vou fazer isto aqui, vou fazer isso aqui ou
acolá”; eu tenho que ter um projeto em que eu coloque transportes, coloque
acessibilidade, coloque emprego, coloque bem-estar. Posso fazer, então - há
outras áreas de que já falei, que são passíveis -, lazer e cultura, posso usar
o Cais do Porto. Alguém já esteve em Puerto Madero? Em Puerto Madero, há hotel,
restaurante, habitação, bem-estar, área para fazer atividades náuticas, tem tudo
e fica a 45 minutos daqui, de avião. Por que não temos coragem de, pelo menos,
começar a pensar em um Puerto Madero aqui? Museus, já temos o Iberê Camargo e o
Museu da Usina do Gasômetro. O Iberê Camargo, curiosamente, é um gesto da
iniciativa privada, independente, e o Movimento Não ao Pontal tira uma
fotografia desse Museu para olhar sobre a praia, para dizer por que a gente não
pode ter iniciativa
privada nem a privatização desta área - é um paradoxo muito curioso.
Para sustentar qualidade, temos que começar
a atrair os turistas que passam. Quantos mil turistas sobem a Serra e não têm razão nenhuma para
passar dez minutos em Porto Alegre? Qual o potencial disso? Nós temos que
integrar o Centro, o Parque Marinha, o Pontal com novos projetos, temos que recuperar
a água degradada e a atividade.
Então o que eu defendo hoje é um projeto ecourbanístico, estruturador,
e vamos pegar a orla como projeto-piloto, não precisa pegar toda a Cidade. Se a
gente fizer uma parte bem-feita, depois vamos fazendo as outras.
O primeiro desafio da orla, o primeiro desafio estratégico, vem em
2014. Ontem, disseram-me que a Copa Jules Rimet não existe mais, mudou de nome.
Eu não sei se é verdade, mas, para mim, a Copa do Mundo é a Copa Jules Rimet.
Ela é uma dimensão, um compromisso global. O Presidente Lula já está montando o
PAC da Copa para ajudar; o Governo gaúcho, o de Porto Alegre, principalmente,
comprometeu-se junto à FIFA. Tive uma reunião, em São Paulo, com o pessoal que
analisou os pedidos das várias cidades e que está trabalhando junto com a
Fecomércio. A primeira pergunta é a seguinte: quem é responsável pelo
compromisso? É o setor público? Não é. O setor privado também tem muita
responsabilidade nisso. Onde está a coordenação disso? Tem estádio? Tem hotel?
Em Porto Alegre, não há parada de ônibus que indique quais são as linhas que
passam.
A exposição sobre Mobilidade em Porto Alegre, do Lindau, mostrou a
carência e a confusão que temos em torno desse tema. Se eu chegar, hoje, numa
cidade japonesa, não precisarei falar japonês para percorrer toda a cidade,
porque tem um impresso com as linhas de ônibus e o número delas. Não há uma
placa de linha de ônibus que eu conheça, em Porto Alegre, que indique qual o
ônibus que passa por ali, para onde vai e de onde vem.
Para o setor público, em São Paulo, todos esses elementos já estão
sendo trabalhados pelo pessoal da Fecomércio, junto com o Governo. Em Porto
Alegre, qual o impacto que vai ter na orla? O que é público? A infraestrutura,
a segurança, o turismo, a cultura e o lazer. O que é privado? Estádio, entorno
do estádio. Só há dois estádios que vão ser feitos pelo setor privado no
Brasil: o Morumbi e o Beira-Rio, e não sendo feitos por setor público, isso vai
criar um belo problema de aporte de dinheiro público para trabalhar nisso. Eu
vou ter turismo; tenho que melhorar a condição do turismo, tem que haver guia,
gente que receba, tem que haver pessoas que falem várias línguas. Quantas mil
pessoas estou esperando? Vinte, trinta mil pessoas? Então, se eu olhar de um
ponto de vista do problema, eu digo quem coordena, quem investe, quem faz, quem
opera e quem vai usar. Por outro lado, esse é o grande potencial.
Este é o Estádio Beira-Rio. (Mostra a foto.) Como vocês podem ver, nem
a paisagem corresponde. Aqui vamos ter prédios com apartamentos, hotéis, etc.
Isso aqui, ecologicamente, entra no rio, e é uma bela ocupação para toda essa
área. Agora, qual é a diferença desse aqui para esse aqui que foi negado, para
esse aqui que está sub judice, enquanto, em roda do Prado, o setor
privado já aprovou e já está construindo prédios, várias torres com mais de 12
andares, onde vai haver hotel, apartamento, etc. e etc.? Qual é a lógica que
está sendo adota?
Em segundo lugar, o Grêmio é dono disso aqui. Será que ele vai querer
outro desses lá? Eu acho que ele tem direito, eu não nego à gremista nada,
porque eu sou colorado, mas, quanto a essa área do Grêmio, aqui, ele pode fazer
um projeto semelhante a esse projeto que o Colorado está propondo? Por que o
Cais do Porto não se faz? Não precisa ser esse projeto, mas por que a gente
deixa de sair da necrose? Esse aqui é o projeto, pode ser audacioso demais,
pode ser isso, pode ser aquilo, mas não adianta mais discutir, vamos definir
uma regra e vamos fazer.
Essa aqui é a Ponta do Estaleiro Só. Aqui está o Museu. Não gostaram
disso aqui? Tudo bem, vamos refazer, mas não façam a bobagem de transmigrar o
setor comercial sul de Porto Alegre, que é a zona mais estéril, mais nefasta do
Plano-Piloto de Brasília, para cá! No setor comercial sul de Brasília,
trabalha-se, fazem-se as refeições e as compras. De noite, há prostituição e
droga, não tem vida, o que é o contrário de Paris, de Nova Iorque, onde eu
misturo um conjunto imenso de funções para ter uma cidade viva, com vida. A
cidade é um tecido com vida.
A orla tem outra grande vantagem: nenhum sistema de transportes, até
hoje, chega perto da orla. Vocês podem ver aqui o sistema de transporte de
Porto Alegre, ele não oferece acessibilidade para ninguém chegar à orla. A orla
é um território esterilizado do ponto de vista de acessibilidade. E eu tirei
esta fotografia aqui, do site da
Wikipédia, porque isto aqui é a Porto Alegre que eu detesto. Eu não acho que
Porto Alegre tenha que ser isso, com edifícios, que são feitos pontualmente por
setores imobiliários e aprovados pelo Plano Diretor, contra uma população que
não tem segurança de nada e que vive aqui.
Então os instrumentos vocês sabem, os instrumentos políticos
administrativos, vale a pena criar um instituto de planejamento, promover e
fortalecer a gestão democrática, mas nós temos que fazer um plano
ecourbanístico dentro do Plano Diretor Urbano. O Plano Diretor Urbano não pode
ficar compartimentando a Cidade em zonas estéreis e não pensar numa estratégia
de desenvolvimento da Cidade. Também temos que promover parcerias. Isso aqui já
é a gestão público-privada. Plano Diretor não é carta de reivindicação. Plano
Diretor é o documento que um Prefeito tem para gerir, gerenciar e melhorar uma
cidade. Essa, então, é a minha esperança a respeito dessa paisagem. Sobre essa
paisagem, vai haver tecnologia, vai haver cultura, vai haver habitação, vai
haver transportes, vai haver turismo. Mas essa paisagem é imutável. Esses
morros têm que ser melhor ocupados; essas áreas têm que deixar de ser
esterilizadas ou ocupadas por um setor privado que não segue projeto de
ninguém, porque não há plano urbanístico nem plano estratégico de ocupação para
essa área. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR. COORDENADOR (João Carlos Brum Torres): Antes de interromper os
pronunciamentos para irmos ao nosso coffee break - que já foi postergado
para essa terceira fala, pois estava previsto para ser feito depois da segunda
fala -, eu queria, em nome da organização geral do nosso evento de hoje,
informar que todos os presentes no ato do lançamento do livro, daqui a pouco,
receberão um exemplar. Faremos um intervalo de 15 minutos. Estão suspensos os
trabalhos.
O SR. MESTRE DE CERIMÔNIAS (José Luís Espíndola): Convidamos todos os
presentes para o coffee break, que será servido no T Cultural Tereza
Franco, em frente ao plenário.
O SR. COORDENADOR (João Carlos Brum Torres -
16h55min): Vamos
retomar os trabalhos do nosso Seminário.
O nosso
último expositor é o Profº Benamy Turkienicz, que foi o Coordenador dos nossos
debates sobre Dinâmica e Estética Urbana. Ele é professor na Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, um grande arquiteto e urbanista da Cidade, com
uma formação internacional importante. Eu não vou entrar nos detalhes do seu
currículo, mas quero ressaltar a importância que esta temática teve no contexto
geral da nossa discussão. A ideia de que a vida de uma cidade envolve
necessariamente uma valorização do seu patrimônio estético e, afinal de contas,
do prazer que nos dá a vida urbana é muito importante cotidianamente, embora
muitas vezes esquecida no momento de tomarmos as decisões sobre as políticas
públicas. Não vou me atrever a entrar na área específica, e passo, desde logo,
a palavra ao Profº Benamy Turkienicz.
O SR. BENAMY TURKIENICZ: Boa-tarde, colega Brum
Torres; boa-tarde, Prefeito em exercício, Ver. Sebastião Melo; Sr. Presidente
dos trabalhos, Ver. Adeli Sell; colegas, amigos, Vereadores.
É com muita honra que eu aceitei o convite para participar desse livro.
Para mim, é um privilégio compartilhá-lo com tão competentes colegas que
participaram da experiência de escrever esses capítulos. Também foi um
privilégio compartilhar com todos durante o período que antecedeu o Seminário,
e, depois, durante a discussão que sucedeu o Seminário.
(Apresentação de datashow.)
O SR. BENAMY TURKIENICZ: Eu peço desculpas, pois a
minha mobilidade está muito afetada, e eu vou sentar.
O tema sobre o qual eu fui convidado a discorrer, para a maioria das
pessoas, é muito difícil de entender. O nome “estética” quer dizer, para muitas
pessoas, “bonito” e, para outras pessoas, pode simbolizar algo que diz respeito
ao bom gosto. Enfim, estética nunca fica ao lado do feio; entretanto, todo o
comportamento humano tem esse componente que diz respeito à apreciação do ser
humano. Independentemente do bonito ou do feio, a estética compõe essa
apreciação; ela é, na realidade, a tradução da percepção que as pessoas têm
sobre o mundo em que vivem. Nesse sentido, a estética aciona todos os sentidos
humanos, e o mais caro aos arquitetos urbanistas, sem dúvida nenhuma, é a
visão. Nós não podemos ignorar que aquilo que nós vemos afeta, sem dúvida
nenhuma, o que nós sentimos. Andar numa cidade vendo coisas bonitas,
agradáveis, é diferente de andar numa cidade - como tendemos a andar em Porto
Alegre - que tem ruas sem grandes atrativos, ruas muradas, ruas que são
invadidas, cada vez mais, por grandes condomínios; cidade que perde a vida de
relação entre os edifícios e o espaço público; cidade que não caracteriza
aquilo que é o mais importante dentro da vida, da história das cidades, que é o
chão público, a res publica, a
república. Essa república que é constituída em nosso País se desintegra a cada
vez que este espaço de interação público se enfraquece, se debilita, se
fragiliza, e nós não fazemos nada para restituir esta noção, que não é
simplesmente uma noção da política no seu sentido congressual, ou da
Assembleia, ou da Câmara de Vereadores, mas da política como a arte da
negociação dos indivíduos no seu cotidiano. Esse é o verdadeiro sentido da
política republicana, aquela que nasce da interação, da integração, da troca,
da negociação no dia a dia, no espaço público. Essa política
vem sendo abandonada em benefício de uma política que é dirigida ou definida
através de grandes decisões, na medida em que esse espaço da negociação ou da
convivência vem sendo substituído por uma domesticação cada vez maior,
domesticação no sentido de domus, no sentido da casa, em que o indivíduo
fica na sua casa, antes vendo televisão, e agora mexendo no teclado da
Internet, “tuitando”, mandando e-mails e assim por diante. Essa vida
urbana que caracteriza o verdadeiro sentido da política - a política dos
gregos, da democracia grega, onde esse espaço público se dá na cidade - vem
sendo substituída gradativamente pelo espaço do shopping, pelo espaço
que fecha a uma determinada hora e cujo acesso é restrito; pelo espaço dos
grandes condomínios, cujo acesso também é restrito e fecha para a maior parte
da população. Esta Cidade vem sendo contaminada e vem sendo destruída por ações
que não preservam, de maneira nenhuma, essa essência da política verdadeira
urbana. Por isso o tema, o nome do meu capítulo é Estética Urbana como
Política.
E dentro dessa discussão, eu fui extremamente
ajudado para levá-la adiante durante o Seminário, pelos coordenadores de
oficina Professor Rômulo Kraft, que está aqui presente e a quem agradeço a
colaboração; Professor Carlos Eduardo Dias Comas, que não pôde vir, está no Rio
de Janeiro participando do Seminário Docomomo; Tânia Rosário, minha colega da
Unisinos.
Eu gostaria de discorrer sobre o tema com
uma visão de futuro, e o que eu vou mostrar a vocês faz parte de uma
experiência que tivemos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Lindau
e eu ficamos surpresos, há pouco, quando a colega e Professora Maria Alice, que
participou, que foi o estopim dessa experiência, foi quem desencadeou a
experiência, disse para nós que a experiência aconteceu em 1997, e nós não
acreditamos, parecia ter sido ontem, mas já faz muito tempo. E essa experiência
foi a de trabalhar uma área de Porto Alegre com essa visão do futuro.
Nós sabemos que cidades e regiões vêm sendo
profundamente modificadas em suas estruturas e condicionadas em suas dinâmicas
de crescimento pela ação de três processos principais: uma é a revolução
tecnológica; a outra é a globalização da economia; e a terceira é a emergência
de uma forma informatizada de produção e gerenciamento econômico. Todos esses
ingredientes, a Professora Maria Alice, há pouco, descreveu muito bem como é
que eles interagem em cidades, particularmente no caso de Porto Alegre. Eu não
vou me alongar sobre eles.
Uma das coisas fundamentais dentro de
cidades modernas, de médio e grande porte, é obter a máxima eficiência na
inovação tecnológica como um processo de interação social, usando a proximidade
geográfica dos seus agentes sociais - aquilo que a Profª Maria Alice chamou de
capital humano - e econômicos, que são os investidores. Se nós, ao invés de
dispensarmos, aproximarmos as pessoas, nós vamos ter um caldo científico,
cultural e econômico que vai permitir essa interação e essa inventividade que
caracteriza essas cidades modernas. Não foi por acaso que o Professor
Francisconi mostrou Paris tão rica e tão densa, num território tão pequeno. A
compacidade das cidades faz parte dessa estratégia de proximidade geográfica.
É necessário, portanto, criar
situações em que infraestruturas e redes tecnológicas e humanas estimulem
processos de interação social criativos, inovadores e produtivos. Como poderia
se dar essa concepção em Porto Alegre e onde?
Uma das ideias que nós trabalhamos foi a de
que nós poderíamos escolher uma região de Porto Alegre dotada de uma
infraestrutura - e eu tinha dito antes, falado sobre a importância das
infraestruturas - já instalada ou em vias de completar a sua instalação, que é
o backbone de fibra ótica, que une o Centro Administrativo do Rio Grande
do Sul ao o Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Essa
região que está marcada, no gráfico, por uma linha - aqui está o Campus Central
da UFRGS, e aqui, o Centro Administrativo -, uniria o Campus do Vale da UFRGS,
passando pela PUC, formando aquilo que seria uma região de potencial
tecnológico “cidade saúde” - logo mais, eu explico. Essa região de potencial
tecnológico se une à região de potencial tecnológico da Restinga, do 4°
Distrito, da Cientec e do polo de informática ligado à Unisinos.
Essas regiões de potencial tecnológico estão
acusadas no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental que foi
aprovado por esta Câmara e compõem uma série de estratégias que permitiriam que
Porto Alegre pudesse otimizar uma característica que ela tem ao longo do Arroio
Dilúvio, na Av. Ipiranga: 27 dos 32 hospitais da cidade de Porto Alegre se
localizam na bacia do Dilúvio. Por essa avenida, circulam diariamente 80 mil
pessoas vinculadas direta ou indiretamente ao setor da Saúde. Por isso
decidimos chamar essa região de “região cidade saúde”.
Aqui está a Av. Ipiranga, já na abstração da
figura anterior, o Centro Histórico de Porto Alegre, o Parque Marinha do
Brasil, a orla, a PUC, a UFRGS, o Hospital Independência - que está enfrentando
problemas -; o Hospital São Pedro - uma área de 12ha completamente vazia -, e o
eixo da 3ª Perimetral unindo exatamente a região do Hospital São Pedro e o
Shopping Bourbon, costurando uma via de altíssimo acesso entre a Zona Sul de
Porto Alegre e a Zona Norte. Esse potencial da Av. Ipiranga, no cruzamento com
a 3ª Perimetral, estabeleceu, de partida, um grande desafio para uma
determinada região que se localiza entre o Hospital São Pedro e a PUC, que nós
chamamos, na sua definição mais pontual, de “Repot Cidade Saúde”.
O mapa que foi construído a partir de todo o
sistema viário de Porto Alegre mostra, em azul, as zonas menos acessíveis e, em
vermelho, as zonas mais acessíveis, mais centrais. Hoje o Centro de Porto
Alegre não está mais aqui, que é Centro Histórico, onde nós estamos; não está
mais aqui, no Parque Farroupilha, mas está no cruzamento da Av. Ipiranga com a
3ª Perimetral; essa é a região mais central de Porto Alegre. Em 1997 - não está
mais no mapa -, nós tínhamos uma profusão de vazios urbanos numa região de altíssima centralidade.
Essa centralidade, passados 12 anos, fez com que ocorressem dois fenômenos: os
terrenos ali, antes com preço bem baixo em relação a outras áreas de Porto
Alegre, quadruplicaram ou quintuplicaram de preço; e, além disso, os vazios,
que hoje não estão mais tão vazios, já vêm sendo ocupados, de uma maneira
completamente randômica, completamente aleatória, sem grande planejamento por
parte do Município.
O que nós fizemos, na época, foi tentar interpretar esse potencial todo
a partir da noção de que existem vazios urbanos, de que existem infraestruturas
como a PUC, o Hospital São Lucas, o Jardim Botânico, a Escola Superior de
Educação Física e o Lafergs - Laboratório Farmacêutico do Estado do Rio Grande
do Sul -, que estavam localizados exatamente na região de intervenção, que é a
região que teria maior potencial de desenvolvimento, porque era a região de
maior intensidade de vazios urbanos numa área de maior acessibilidade e de
maior centralidade.
Essa região foi gravada dentro do Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano e Ambiental como uma região também de desenvolvimento tecnológico e um
corredor de centralidade. E nós localizamos uma coisa bastante interessante
dentro dessa área: existiam próprios do Município, que estão em vermelho;
próprios do Estado, em laranja; próprios da União, em verde, e terrenos de
terceiros, que são as áreas cinzentas. No total, esses próprios, juntando um
índice de aproveitamento então existente no Plano Diretor de 2.0 e 3.0,
totalizavam um potencial construtivo de seis milhões de metros quadrados,
potencial que a Cidade poderia utilizar para uma área de inovação tecnológica e
para uma área de qualificação urbana num setor da Cidade ainda em consolidação.
De acordo com o novo Plano Diretor, essa cifra está aumentada, e nós poderíamos
dizer que quase metade dessas áreas, em termos de quantidade e de superfície,
estava em mãos do Poder Público, facilitando uma negociação, uma intervenção.
Nada disso foi aproveitado.
Para falar um pouco do Projeto, nós pensamos, no que diz respeito à sua
estrutura de transportes, num sistema que pudesse unir o Campus do Vale da
UFRGS, costurando pelo Campus da PUC, em direção à Av. Protásio Alves e, logo,
chegando à Rodoviária de Porto Alegre, utilizando um meio de transporte, e a
Renault se interessou em estabelecer um convênio com a Prefeitura de Porto
Alegre. Eles vieram duas vezes a Porto Alegre para estabelecer um acordo que
procurasse estimular o desenvolvimento de tecnologias de um veículo, de um
ônibus de pequeno porte que pudesse trafegar sobre uma canaleta, usando energia
elétrica e também combustível. Esse ônibus poderia ser, no interesse da
Renault, desenvolvido em conjunto com o Projeto Porto Alegre Cidade Saúde.
(Pausa.)
Outro aspecto que nós entendemos que, na época, era muito importante de
ser modelado era a questão da drenagem urbana. Digamos que aqui está a Av.
Protásio Alves; aqui está o morro que deságua na Av. Ipiranga. Não é bem isso,
mas, como essa área é uma área que despeja na bacia do Dilúvio, que,
supostamente, estaria aqui - este é o modelo que está no Altas Urbano de Porto
Alegre -, seria importante que essa região não fosse impermeabilizada;
portanto, seria muito importante que o planejamento dessa região fosse feito de
forma a garantir uma absorção natural do terreno, o que significa a não
impermeabilização do terreno. (Pausa.)
Se essa ocupação fosse feita através de terraços com tetos verdes e
áreas permeáveis, nós não teríamos o risco que temos continuamente no Arroio
Dilúvio, de ter inundações, como costumam ocorrer. Eu já presenciei uma. Eu
estava dentro do carro, na esquina da Av. Goethe com a Av. Ipiranga, e a água
já havia passado do nível da ponte. Essa situação não faz muitos anos que
aconteceu. (Pausa.)
Essa seria uma forma responsável de se pensar a estratégia de
qualificação de Porto Alegre. Como bem disse o Professor Francisconi, nós
precisamos vincular estratégias gerais de qualificação ambiental a projetos
urbanos. E é através da consagração do projeto urbano que essas estratégias são
implementadas. (Pausa.)
Aqui nós temos a noção de que nós teríamos uma possibilidade, juntando
o terreno da ESEF com o do Jardim Botânico, de criar um parque urbano numa
região absolutamente central. Eu estava falando que nós temos hoje o Centro de
Porto Alegre, mas nós não temos nenhum parque urbano nesse Centro de Porto
Alegre; portanto, pensar na ESEF junto com o Jardim Botânico significa
pensar, estrategicamente, em um local equivalente ao Parque Farroupilha na área
mais central. E esse parque urbano poderia - aqui está a Av. Ipiranga; mais
adiante, a ESEF e o Jardim Botânico - se estender para as margens do Arroio
Dilúvio, criando um parque denominado “parque pluvial” - denominação essa
sugerida pelo Instituto de Pesquisas de Hidráulicas, que fez parte do projeto,
representado pelo Professor Tucci e pelo Professor Joel Goldenfum -, ou seja,
fazendo com que a água que descesse do morro, desde a Av. Protásio Alves até a
Av. Ipiranga, pudesse não só ficar absorvida pelo terreno no curso da descida,
mas que também pudesse ter bacias de retenção como, mais tarde, foram feitas em
Porto Alegre, através desses buracos que vocês veem de vez em quando, não muito
bem mantidos pela Prefeitura, mas que são bacias de retenção que impedem que a
água chegue velozmente, causando as inundações nos cursos d’água.
Seria muito importante também assegurar uma ponte ecológica entre o
Morro Santana e o Projeto Cidade Saúde, fazendo com que os animais que
circulassem nessa região pudessem passar por entre as avenidas e ruas, porque a
preservação do ecossistema depende dessas pontes. E elas também poderiam
acontecer - no nosso projeto há uma indicação - através de tubos que
permitissem não só a passagem de água, mas também a passagem de animais por
cima, em secções desses tubos.
Essas estratégias que nós imaginamos para esse projeto envolvem
estratégias de articulação através de nós e eixos viários; estratégias de
consolidação do uso do solo, através de tipologias e núcleos temáticos que
permitissem que esses princípios ambientais fossem implementados; estratégias
de interface, bordos, ou seja, dessa região com o resto da Cidade - já
consolidadas -; e uma estratégia de animação, através do parque pluvial, dos
terrenos da ESEF e do Jardim Botânico, que vinculassem toda a região, através
do uso do solo, o que era previsto para empresas de cunho tecnológico.
Deixe-me só lembrar de uma coisa que eu havia esquecido de dizer: nesse
projeto, estava previsto o Tecnopuc no lugar onde o Tecnopuc foi implantado. O
Tecnopuc surgiu depois de uma apresentação que nós fizemos na PUC - a Maria
Alice deve estar lembrada -, em que o Reitor estava presente, e ele viu a nossa
proposta de que o Tecnopuc se localizasse naquele terreno onde está hoje
implantado. Depois, mais tarde, eu mostro para vocês onde estava isso.
Esta é a visão que nós tivemos para a região, em que você tem a Av.
Ipiranga, essa parte de terraceadas e o parque pluvial localizado aqui. Aqui
está localizada a PUC; aqui o Tecnopuc, e, nesta região aqui, está o Hospital
São Pedro, também previsto para ser uma área de inovação tecnológica. O
Hospital São Pedro é uma região que abriga esses pavilhões, que são
maravilhosos, mas que tem uma área livre surpreendente, que poderia também ser
aproveitada como um parque. A ideia é que, se nós tivéssemos uma cidade
tecnológica implantada ao longo da Av. Ipiranga, estaríamos sendo servidos por um
sistema de transporte moderno, por uma infraestrutura de comunicação e
tecnologia da informação, um backbone altamente poderoso, e nós
poderíamos, então, aqui, desenvolver laboratórios, universidades, centros de
pesquisa, que poderiam dar à Cidade aquela infraestrutura para absorver esse
potencial de recursos humanos, o capital humano, aquele que a Professora Maria
Alice Lahorgue citou, de que Porto Alegre é tão pródiga, através da formação
dos seus centros universitários da UFRGS, da PUC, da Ulbra e de outras
universidades da Região Metropolitana.
Então, esses seis milhões e meio de metros quadrados que nós teríamos
ali poderiam ter um curso de forma estruturada, de forma planejada. Para
lembrar, a título de comparação, Porto Alegre é uma cidade que constrói 700 mil
metros quadrados, em média, por ano; salvo melhor juízo, isso seria área para
aproximadamente oito anos de construção, só colocados dentro dessa área. Então,
só numa região Porto Alegre, haveria esse potencial. Claro que não deveria ser
construído tudo em oito anos, mas isso é só para se ter uma ideia de como uma
cidade, tendo um potencial construtivo, poderia planejar a sua infraestrutura
para se desenvolver economicamente.
Nós sabemos que, hoje, a cidade de Porto Alegre vem perdendo indústrias
e também vem perdendo população. Porto Alegre, de certa maneira, precisa ser
reinventada, e essa reinvenção, sem dúvida nenhuma, deve passar pela
reinterpretação das condições socioeconômicas e dos recursos humanos de que
hoje dispõe. Planejar de forma estruturada significa desenhar no espaço a
oportunidade para que essas atividades possam acontecer de forma integrada,
aproveitando todo o capital humano, os investimentos e os recursos científicos
e tecnológicos que nós criamos dentro da nossa Cidade.
Essas são outras visões, em que nós entendemos a importância da
convivência com as áreas verdes mais esparsas, admitindo, inclusive, terminais
de transbordo como esses dois a que o Professor Lindau se referiu; Porto Alegre
não pode transformar o seu Centro da Cidade em um grande terminal de ônibus.
Aqui, na esquina da Av. Ipiranga com a 3ª Perimetral, e logo mais adiante,
seriam dois pontos interessantes de transbordo para quem trafega da Zona Norte
para a Zona Sul, sem a necessidade de ir ao Centro da Cidade.
Essas possibilidades foram exploradas no Projeto, mostrando que todo e
qualquer projeto, em escala urbana, precisa integrar todas essas variáveis para
poder mostrar a sua viabilidade a médio e longo prazo.
São alternativas de projeto que nós lançamos para a área, detalhando
essas propostas, mostrando como poderia ser, naquela área terraceada, a
vivência das regiões de laboratórios, com os tetos verdes e assim por diante. E
também há a proposta de integrar a PUC e o Hospital São Pedro, numa região de
expansão da Universidade da PUC para aquela região do Hospital São Pedro.
Aqui mostra também como poderia ser feita a regeneração na Vila Bom
Jesus, que faz parte da região, que é uma coisa importante e que não deve ser
esquecida. Em todo e qualquer projeto de alto custo de impacto que envolve
investimentos, devemos pensar sempre na área de influência, que, muitas vezes,
e no caso das cidades brasileiras, certamente envolve pessoas que não têm
condições econômicas de fazer, por contra própria, a qualificação do seu habitat.
Essas são visões, e esses são recursos e ferramentas de
geoprocessamento que nós utilizamos para mapear a área e obter dados para
trabalhar, de forma consequente, com esses dados e com as nossas propostas.
Esse é o slide final que eu gostaria que fosse entendido como
uma visão de um futuro possível, absolutamente viável dentro do mercado de
Porto Alegre, absolutamente viável dentro da economia de Porto Alegre e dentro
dos recursos humanos que nós temos.
E resta a pergunta: por que a Cidade, até hoje, não deu espaço para
projetos desse tipo? Não precisa ser este; outros projetos existiram e existem
para Porto Alegre, uma Cidade que não incorporou esse potencial não só de
terras disponíveis, como também o potencial de ideias disponíveis. E a ideia
que nós temos é de que Porto Alegre não o fez, exatamente porque existe uma
dissociação profunda entre Estado e Universidade; entre conhecimento e Estado;
entre mercado, conhecimento e Estado, porque essas propostas pressupõem o
casamento dessas três instâncias. O casamento entre essas três instâncias, que,
na nossa Cidade, não aconteceu, aconteceu em outras cidades como, por exemplo -
eu posso citar uma cidade de médio porte -, em São Carlos, onde, por duas ou
três gestões, o Prefeito da Cidade foi reitor da Universidade. Aconteceu esse
casamento em outras cidades, como Zürich, onde a iniciativa privada se uniu à
Universidade e ao Estado para pensar a cidade com o potencial de que ela
dispõe, que é a combinação dessas três instâncias. A cidade que não consegue
fazer esse casamento é uma cidade que patina no tempo, e uma cidade que patina
no tempo é uma cidade que perde espaço para outras cidades e para outros
projetos. Era isso o que eu gostaria de apresentar para vocês. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR. COORDENADOR (João Carlos Brum Torres): Eu queria agradecer muito a
manifestação importante que o Professor Benamy fez, concluindo a nossa rodada
de trabalhos.
Em observações conclusivas sobre este nosso Seminário, eu queria dizer
que, na orelha deste livro, há uma frase que diz que, para construir uma cidade
que seja aprazível, que aproveite os seus potenciais, que atenda às
expectativas daqueles que nela moram - especialmente no nosso caso, os
porto-alegrenses, que sempre somos muito exigentes com relação a nós mesmos -,
é preciso contar com a colaboração e com a participação de urbanistas de
talento.
Eu acho que o conjunto das iniciativas da Câmara, no ano passado, como o Seminário que hoje repetimos, é um esforço muito concreto para chamar as pessoas que fazem parte da comunidade dos urbanistas de Porto Alegre a se manifestarem.
Para falar de um detalhe do nosso processo de discussão, eu queria
dizer que, durante o nosso ciclo, no ano passado, houve um momento em que eu,
discutindo com o Benamy, disse-lhe: “Vocês estão faltando com a Cidade”. Ele me
respondeu que isso não era verdade, e tivemos uma pequena altercação. Hoje,
aqui, ele mostrou, de uma maneira muito concreta, muito convincente, que os
urbanistas e os arquitetos de Porto Alegre não estão faltando com a Cidade; que
eles estão presentes, que eles têm ideias, que eles têm projetos, e o que está
nos faltando é uma articulação institucional mais efetiva. Aliás, talvez a
principal recomendação que fica deste nosso ciclo de debates seja justamente a
ênfase que o Presidente Sebastião Melo e que todos os participantes do “Porto
Alegre, uma visão de futuro” tiveram com relação à necessidade de que,
efetivamente, se venha a criar, em Porto Alegre, uma instituição de
planejamento urbano. Essa é uma necessidade evidente que o Benamy acabou de
demonstrar de uma maneira muito forte, e, se tivermos um locus
institucional adequado, as contribuições não faltarão.
Falou-se aqui, muitas vezes, do exemplo de Curitiba. Não é que a gente
ache que Curitiba tenha todas as soluções do mundo, mas eles tiveram esta
sabedoria de criar uma instituição que viabilizou uma sinergia entre as forças
que precisam estar envolvidas no planejamento e na organização urbana da
cidade; em Porto Alegre, isso está a faltar. É por isso que, ao encerrar este
nosso painel, eu queria voltar a enfatizar a importância de isso ser,
efetivamente, levado a cabo.
Eu queria, também, em nome do compromisso com as coisas como elas são,
recordar aos senhores que, quando nós fizemos a nossa Sessão de encerramento,
lá na PUC, e apresentamos essa ideia a todos os candidatos a Prefeito de Porto
Alegre, os mais próximos de ganharem as eleições, que eram a Deputada Maria do
Rosário e o Prefeito Fogaça, foram os que se mantiveram mais contidos com
relação à ideia. E a razão é provavelmente porque a criação de uma instituição
como essa envolve gastos públicos, e essa coisa, entre nós, sempre considerada
como muito antipática, que é a de criar mais um organismo público. Mas eu acho
que nós, nessa área, como em tantas outras, aqui no Rio Grande do Sul, estamos
involuindo. A situação que tínhamos há 20, 30 anos, com a Metroplan tendo uma
participação efetiva, por exemplo, na gestão dos assuntos metropolitanos, era
um ganho, era um ativo, era uma capital da Cidade; nós estamos desmanchando
isso. Os anos de crise fiscal têm feito com que - seja no nível estadual, seja
no nível municipal - nós estejamos a dilapidar o nosso capital de inteligência.
É preciso que haja uma revalorização dos instrumentos de inteligência na
montagem e na implementação das políticas públicas. (Palmas.) E no caso
específico que nós estamos tratando aqui, a criação do instituto é, certamente,
uma ferramenta e uma base de recuperação da inteligência na condução dos nossos
negócios.
Porto Alegre é uma cidade de muita ambição, se tornou mundialmente conhecida com o Orçamento Participativo. Isso foi uma criação institucional muito relevante, mas ela teve um colateral negativo, ela fez com que a nossa atenção, com que o nosso olhar ficasse concentrado no uso, na alocação do fundo público no horizonte do ano. A vida de uma cidade é muito maior do que isso; ela se faz muito além da despesa do recurso do tesouro, do investimento público. Ela tem essa interação necessária e que se faz inteligentemente ou não, dependendo da capacidade de articulação dos interesses dentro da Cidade. E isso é preciso que a gente recupere. Essa é, provavelmente, a lição mais importante que o “Porto Alegre, uma visão de futuro" deixa.
Não quero
me estender. Vamos ainda ter oportunidade. O Presidente Sebastião Melo vai
falar, e eu voltarei a falar também, mas queria fazer esse registro para
concluir este nosso debate.
Com isso,
dou por encerrada essa parte dos trabalhos. Lamento não poder abrir a palavra
para nós fazermos um debate, mas o Presidente Melo me disse que trabalha com um
horário que não pode ser atropelado.
Eu queria agradecer muito a presença de todos, o prestígio que nos deram, desejar bom proveito na leitura deste livro e convocar todos para que cuidemos da nossa Cidade e façamos com que, de maneira concreta, efetiva e comprometida, Porto Alegre venha a ser a cidade que a gente almeja, mas que todos nós estamos vendo que está muito subestimada, muito diminuída. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
(Suspendem-se os trabalhos às 17h33min.)
O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Eu queria lembrar a presença
do Paulo Vellinho e de outras personalidades que têm muito contribuído com a
discussão da nossa Cidade. Quero lembrar também que, hoje à noite, às 20h,
faremos uma janta, por adesão, que será realizada no Rua da Praia Shopping, no
Variettà Bistrô. Nós pedimos que quem quiser participar comunique ao nosso
serviço de Relações Públicas. Esperamos poder contar com as suas presenças.
O Sr. João Carlos Brum Torres, Coordenador-Geral do Fórum Porto Alegre,
uma visão de futuro, está com a palavra.
O SR. JOÃO CARLOS BRUM TORRES: Eu falei várias vezes nesta
tarde, aqui, mas queria, neste encerramento, que, ao mesmo tempo, é o momento
de lançamento do nosso livro, agradecer, antes de mais nada, o prestigioso
convite que me foi endereçado pelo Presidente Sebastião Melo, para que eu
coordenasse o nosso ciclo de debates. Eu queria, nesta oportunidade, sem nenhum
desejo de retribuir a atenção dele com uma outra atenção, mas como
reconhecimento do mérito desta iniciativa que a Câmara de Vereadores de Porto
Alegre tomou, mais uma vez enfatizar a importância da iniciativa. Como eu, há pouco,
estava dizendo, Porto Alegre esteve, durante um período grande, como que
esquecida no que tange à sua dinâmica global. Nós estivemos muito concentrados
no uso dos recursos públicos, no tratamento de projetos específicos. O
Francisconi, ainda há pouco, chamava a atenção para o fato de não se ter uma
visão integrada de como tratar esta área de grande valorização, desse grande
potencial que nós temos, que é a área da orla, e os exemplos podem se
multiplicar em muitas áreas da Cidade. O ponto principal que
eu queria neste momento ressaltar é que a gente deixou de lado esta visão de
conjunto e de horizonte temporal mais profundo, e é importante que a Cidade
recupere isso. Não creio que conforte nenhum de nós aqui ver, slide após
slide, fotos e realizações paranaenses. Nada contra os nossos
companheiros, os nossos concidadãos paranaenses e curitibanos, mas Porto Alegre
é uma cidade antiga, uma cidade tradicional, é uma cidade ambiciosa, justamente
ambiciosa. Não nos pode confortar não sermos nós também motivo de apresentação
de figuras, de slides, de realizações; é preciso que a Cidade volte a
formar uma consciência viva, inteligente, prospectiva e forte do seu futuro
urbanístico.
A Câmara de Vereadores, ao promover o ciclo
de debates de “Porto Alegre, uma visão de futuro”, no ano passado, tomou a
vanguarda dessa iniciativa. Está mal, não deveria ser a Câmara a fazer isso.
Mal não está; a Câmara é a instância de representação dos interesses da Cidade,
compete-lhe isso, sim, mas, vamos convir, uma casa legislativa trabalha em cima
das situações concretas, dos projetos de lei, das questões específicas que lhe
são trazidas, em grande parte, a partir do Executivo e por demandas da
comunidade. Essa é a rotina, esse é o normal. No ano passado, a Câmara saiu da
rotina, saiu do normal, se deu conta de que a Cidade está precisando abrir e
fazer um debate mais profundo. Esse crédito não se pode retirar da Câmara; ao
contrário, há de ser louvado repetidamente! Tivéssemos nós, em outros fóruns,
na instância do Poder Executivo, na opinião pública, um debate vivo, informado,
grande, aprofundado, sobre o futuro de Porto Alegre, a Câmara não precisaria
estar tomando essa iniciativa. Este tipo de debate não é a obrigação primeira e
principal da Câmara; ela tomou a iniciativa e fez isso, porque, no conjunto das
forças vivas que trabalham em Porto Alegre, há certa carência, há uma
importante carência. É por isso que eu acho que deve ser louvada e distinguida a iniciativa
que foi tomada por esta Casa no ano passado, e que agora a gente leva a termo.
O Presidente certamente vai falar sobre as expectativas de
desdobramento que a gente pode ter com relação ao resultado deste Projeto que
foi o “Porto Alegre, uma visão de futuro”. Eu, da minha parte, queria, em nome
de todas as equipes técnicas, de todas as pessoas que se engajaram dentro deste
Projeto, reafirmar o nosso entendimento unânime de que criar uma base
institucional de planejamento urbano na Cidade é uma condição de recuperação da
inteligência na condução dos negócios municipais e uma condição importante para
que a gente possa visualizar um futuro de Porto Alegre mais ordenado e que,
afinal de contas, faça desta Cidade também um exemplo de urbanismo modelar no
contexto brasileiro. Não é a mesma coisa trabalhar numa cidade mais antiga,
mais tradicional, mais estruturada, como é Porto Alegre, comparativamente à
experiência da Curitiba, mas isso não quer dizer, como nas exposições que vimos
há pouco, que não haja o que fazer inovativamente na nossa Cidade - certamente
há. O que nós precisamos, como eu estava dizendo há pouco, é recuperar a
inteligência da Cidade e integrá-la com a iniciativa privada e com o setor
público, dar um jeito de fazer sinergia entre nós. Acho que essa é a lição mais
importante deste trabalho que hoje nós estamos entregando, consolidadamente, na
forma deste livro, a todos os senhores. Nós temos muita esperança de que, a
partir desta iniciativa, deste debate, deste livro, a gente dê novos passos no
sentido de fazer com que Porto Alegre se reassuma, se ponha novamente na
própria mão e trate de enxergar e divisar as oportunidades que está deixando de
aproveitar.
Foi unânime entre os partícipes do nosso evento do ano passado, que
vieram de outros lugares do Brasil e do Exterior, a ideia de que o Guaíba é o
maior ativo urbanístico da Cidade. Também foi unânime o sentimento expresso por
eles de que este ativo não está sendo posto em valor, que é uma espécie de
desperdício do capital urbanístico principal da Cidade. Isso não quer dizer que
se tenha que liberar edificações lá na orla - eu não sei qual é a situação para
isso. O que eu sei, e isso é um fato, é que nós não estamos com uma visão clara
e nem mesmo com uma discussão estruturada sobre isso. A discussão tem sido
confinada a uma discussão sobre altura, sobre sacadas, ou então sobre não fazer
nada na Cidade. É preciso que a gente se dê conta de que o debate urbanístico,
em Porto Alegre, precisa ser retomado. É com a satisfação de ter dado um
pequeno passo para a retomada dessa discussão urbanística que nós hoje lançamos
este livro.
Eu queria, nesta mesma oportunidade, dizer, lembrar e ratificar que o
Presidente Melo não fez isso sozinho; que esta Casa, este Plenário e os
Vereadores desta Casa tiveram uma participação muito importante nisso, e que,
nesse sentido, a Câmara deu uma contribuição muito grande para o
desenvolvimento da Cidade e cumpriu uma função e uma responsabilidade que
certamente é dela, mas que não é do seu dia a dia, e que ela tomou numa
circunstância que a gente pode considerar que é uma circunstância da falta de
iniciativa dos outros atores institucionais que estão presentes e atuantes no
nosso meio.
Com isso, encerro, não sem agradecer muito, também, os nossos
companheiros de jornada, os coordenadores que falaram hoje, todas as pessoas
que se envolveram nisso, também as instituições que compreenderam a importância
da iniciativa da Câmara, que estão presentes nesta Mesa e que auxiliaram com a
sua força institucional e, em alguns casos, com aportes materiais para a
realização desse ciclo de eventos.
Aproveito para encerrar, parabenizando a Câmara de Vereadores de Porto
Alegre, acima de tudo, e os senhores todos, cidadãos desta Cidade que aqui
compareceram com a vontade de fazer com que Porto Alegre se transforme na
cidade que a gente sabe que ela pode vir a ser. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Saudamos os nossos
Secretários Municipais Idenir Cecchim, da Secretaria Municipal da Produção,
Indústria e Comércio, e o Luiz Fernando Moraes, Secretário Municipal de
Turismo. Também queremos anunciar a presença do Sr. Marcelo Cardona, Presidente
da Câmara Municipal de Montenegro; do Sr. Edemar Tutikian, Diretor de
Desenvolvimento e Marketing da CaixaRS, um dos coordenadores do nosso Cais do
Porto. Quero também, saudando o jornalista Armando Burd, saudar todos os
militantes da imprensa aqui presentes e que deram uma cobertura importante a
este e a outros eventos que nós realizamos nessa perspectiva de termos hoje o
lançamento deste livro.
Quero também agradecer a presença do Luiz Coronel.
Ao longo de nossas atividades, vou citar o nome de outras
personalidades que engrandecem este evento.
O Sr. Daiçon Maciel da Silva,
Prefeito Municipal de Santo Antônio da Patrulha e Presidente das Associações
dos Municípios da Região Metropolitana da Grande Porto Alegre - Granpal -, está
com a palavra.
O SR. DAIÇON MACIEL DA SILVA: Ver.
Adeli Sell,
na presidência dos trabalhos; Exmo Ver. Sebastião Melo, Prefeito
Municipal de Porto Alegre, em exercício; ao saudá-los, cumprimento os demais
integrantes da Mesa, senhoras e senhores.
Vou falar a respeito do Projeto proposto pelo Ver. Sebastião Melo e
aprovado, consensualmente, pelos demais colegas desta Casa. Hoje se faz o
coroamento dos estudos iniciados em 14 de maio e concluídos no dia 22 de julho
de 2008, com cinco eventos temáticos e um fórum de encerramento. Na verdade, a
proposta eram os debates, para fazer com que nós, cidadãos, políticos, tenhamos
a consciência urbanística. E ter consciência urbanística é valorizar o capital
humano, é ter políticas sociais adequadas, é potencializar o conhecimento
científico e tecnológico, isto é, fazer com que suas cidades tenham cérebros.
Na verdade, eu não sei agora, neste momento, se me coloco como cidadão
morador desta Cidade, porque aqui eu fiz os meus estudos, naquela época, do
chamado Científico, nível médio. Depois, fiz o meu estudo superior, a minha
graduação em Engenharia Civil e, por último, o meu Mestrado nessa área. Não sei
também se falo como profissional liberal que fui; não sei se falo como
engenheiro pesquisador ainda vinculado à Fundação de Ciência e Tecnologia; não
sei se falo, mesmo licenciado, como professor universitário; e aí lembro da
Unisinos e também do Centro Universitário Ritter dos Reis; portanto uma convivência
permanente com engenheiros e arquitetos; não sei se falo como sindicalista,
porque integrei a direção do Sindicato dos Engenheiros, aqui representado pelo
nosso querido Presidente; e não sei se falo aqui como político, e como político
vinculado a um Partido.
De qualquer forma, este momento, entendemos ser muito rico. Eu assisti,
de ponta a ponta, à apresentação; inscrevi-me para fazer o seminário no ano
passado; porém não pude fazê-lo, mas mandei a representação do nosso Município,
prezado Ver. Sebastião Melo, para que, pela sua formação como arquiteto,
participasse, de ponta a ponta, do evento.
Portanto, não é qualquer cidade que tem um livro que fala sobre a
consciência urbanística da Cidade, sobre a mobilidade urbana, sobre o
desenvolvimento econômico, sobre o urbanismo sustentável, sobre a dinâmica e a
estética urbana, que fala da segurança pública e faz, como encerramento, um
debate das experiências contemporâneas de renovação urbana.
Eu tive o privilégio de receber do Presidente desta Casa, o Ver.
Sebastião Melo, em visita ao nosso Município, na semana passada, um exemplar do
livro, que fará com que seja a orientação para que também o nosso Município
tenha a qualidade da discussão democrática da sua Cidade.
Portanto a mobilidade, a segurança, o meio ambiente e a geração de
emprego e renda são pilares fundamentais para que se tenha uma boa cidade.
Também não podemos esquecer de que a geração de emprego e renda permite a
atração de investimentos. A gente sabe que a cidade é composta por pessoas e que
para elas deveremos ter políticas sociais adequadas. Não devemos esquecer, como
gestores de uma cidade, de que precisamos ter uma gestão decente; não podemos
esquecer de que o planejamento é essa ferramenta; não podemos esquecer de que o
avanço tecnológico é necessário às pessoas e às empresas. Não podemos também
esquecer da presença das universidades. E tenho muito orgulho de dizer aos
senhores e às senhoras que Santo Antônio da Patrulha, destacada pela Maria
Alice Lahorgue, está na ponta, em um dos extremos, e lá temos Universidade
Pública Federal instalada, ensino presencial, que vai fazer agora, em dezembro
deste ano, o seu segundo vestibular para Engenharia Agroindustrial, com 50
alunos com ênfase na indústria alimentícia e outros 50 com ênfase em Agroquímica.
Temos também, em nossa Cidade, a Universidade Aberta do Brasil, que tem sete
cursos, alguns oferecidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; a
Universidade Federal de Pelotas; a Universidade Federal de Santa Maria. Temos
também, prezado Presidente em exercício da Câmara, o Ensino Técnico
Profissionalizante, o Etec.
Portanto, concordo plenamente que a cidade também se faz com parcerias;
o Município, sozinho, não poderia ter uma universidade com quase mil alunos no
seu contexto geral, porque lá também tem, no Polo Universitário, o Telecentro e
o Centro de Inclusão Digital. Então a parceria do Município com o Governo do
Estado e com o Governo Federal é que potencializou a nossa Cidade, que se
localiza na Região Metropolitana, a última das cidades a serem incluídas na
Região Metropolitana, e, agora, tenho muito orgulho
- assim fui identificado pela Mesa - de presidir a Associação de Prefeitos da
Região Metropolitana da Grande Porto Alegre.
Santo Antônio tem aproximadamente 40 mil
habitantes, é uma cidade muito pequena em relação a Porto Alegre, a Gravataí, a
Cachoeirinha, a Canoas, a Esteio, a Sapucaia, a Alvorada, a Viamão, sendo um
pouquinho maior do que Nova Santa Rita e Glorinha. Então eu me sinto
extremamente satisfeito, prezado Prefeito em exercício, por ter sido convidado
para o evento e poder destacar, neste ambiente, que a Região Metropolitana
carece de estudos.
Está na Mesa o Nelson Lídio, que preside a
Metroplan; estão aqui outros arquitetos, engenheiros da Metroplan, meus
conhecidos; o Arquiteto Luiz Carlos Valdez Flores, meu colega na Ritter dos
Reis, mas, com toda a sinceridade, não temos a Metroplan que tínhamos no
passado. E Porto Alegre, na nossa visão, não pode pensar em mobilidade só
dentro dela. Nós queremos acesso à maior cidade que nós temos em nosso Estado e
à melhor cidade, pela sua história e pelo seu futuro. Aqui está a sua visão.
Estava difícil entrar em Porto Alegre, e
estava difícil sair; havia horários determinados para isso. Agora está difícil
entrar e sair a qualquer momento. E nós não podemos pensar numa Copa do Mundo
não tendo a visibilidade da mobilidade como um todo.
Portanto o Plano Diretor de uma cidade,
quando cidades se encostam uma na outra, não pode ser o Plano Diretor daquela
cidade; tem que ser o Plano Diretor de uma região, porque o problema do
transporte coletivo de uma cidade é o mesmo problema de outra cidade. É
inadmissível entender que todas as linhas de ônibus da Região Metropolitana
venham até o Centro Histórico de Porto Alegre. A passagem fica mais cara, a
Cidade fica congestionada. E, ao falar em mobilidade, nós temos que falar em
mobilidade na sua plenitude, porque mobilidade não é só se mover; e, quando se
move, é o cidadão e é também o bem que faz parte daquela cidade. E a
mobilidade, quando se fala em cidadão, se esquece da acessibilidade. Nós temos
pessoas com deficiência e, normalmente, não se vê isso nesse contexto.
Portanto, eu estou fazendo aqui alguma
provocação, porque este é o papel que eu tenho como Presidente da Granpal; o
período é tão curto, e as cidades não só se congestionam, as cidades também
apresentam problemas sérios na questão do destino final do nosso lixo. É
inadmissível a minha cidade estar levando o lixo para o litoral; é inadmissível
Porto Alegre estar levando o lixo para tão longe, para Minas do Leão, mas é
melhor fazer isso do que colocar o seu próprio lixo num aterro sanitário que se
torna insustentável pelo chorume, pelas crianças comendo alimentos, pelos
animais comendo alimentos e pelos urubus buscando também o seu alimento. É
inadmissível que Porto Alegre receba toda a população dos Municípios que não
têm hospital. É inadmissível que a Segurança pública não seja completa, e não
só na cidade de Porto Alegre.
Portanto, prezado Prefeito em exercício,
Sebastião Melo, este debate provoca não só a melhoria de Porto Alegre, mas
permite que essa provocação seja estendida a toda a Região Metropolitana. E nós
sabemos, Nelson Lídio, que a potencialidade, do ponto de vista das atribuições,
na Metroplan, é fantástica, mas tu padeces e careces de renovação na tua
equipe. Assim nós, engenheiros, arquitetos e urbanistas, precisamos, sim, de
vários Brum Torres para coordenar trabalhos desse tipo; nós precisamos da
Associação Brasileira de Engenharia; precisamos do Sindicato dos Engenheiros;
precisamos de tantas instituições que nos permitam fazer os estudos técnicos
que são necessários. Nós precisamos, também, eleger pessoas que tenham
profissionalização na sua gestão. Por isso é necessário, sim, que as cidades
façam, Sebastião Melo, o que vocês estão fazendo, ou seja, não só democratizar a discussão,
mas também profissionalizá-la. Eu estou me estendendo, mas quero agradecer
também o convite carinhoso que recebi do nosso grande jornalista, pessoa de
reconhecida capacidade, Armando Burd. Ele também é merecedor do nosso aplauso,
do nosso reconhecimento. (Palmas.)
Quero
encerrar fazendo uma saudação especial a todos os Vereadores - eu também fui
Vereador no meu Município. Eu fui suplente de Vereador, Vereador, candidato a
Prefeito, Vice-Prefeito duas vezes, cumpri mandato-tampão como Prefeito, e
agora me reelegi Prefeito. Então, eu passei por tudo o que era necessário
passar, mas eu voltei para a minha Cidade - aqui vivi, e a minha família
continua aqui - para retribuir ao meu povo o carinho que me deu, para agradecer
à terra que me criou.
O Prefeito
Fogaça disse muito claro, na abertura do evento, hoje à tarde: “... são
fundamentais nesse processo”. E vejo aqui qualidades quase infindáveis, porque
eu vejo advogado, eu vejo engenheiro, eu vejo arquiteto, eu vejo a pessoa que
se identifica com a vila, eu vejo o cidadão mais humilde aqui representado
nesta Casa.
Quero encerrar dizendo aos Vereadores Adeli Sell, Airto Ferronato, Beto
Moesch, Elias Vidal, Haroldo de Souza, João Antonio Dib - pessoa que vive esta
Cidade, respira esta Cidade -; João Carlos Nedel - com quem trabalhei -; Luiz
Braz, Nelcir Tessaro, Pedro Ruas, Reginaldo Pujol, Sebastião Melo, Tarciso,
Toni Proença, Valter Nagelstein, a todos com que já tive um processo de
convivência, que saio daqui como aluno deste ensinamento, com este aprendizado.
Então quero realmente deixar, em nome da Associação de Municípios da
Região Metropolitana da Grande Porto Alegre, Ver. Adeli Sell, o reconhecimento
por este trabalho fantástico feito pela Cidade e feito por vocês e que será
feito por todos nós. Muito obrigado.
(Não revisado pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adeli Sell): Obrigado. Quero também
registrar a presença do Major Nelson Matter, Comandante do Corpo de Bombeiros
de Porto Alegre; do Sr. Moacir Padrão da Silva, representante do Grão-Mestre do
Grande Oriente do Rio Grande do Sul; do Sr. Roberto Bertoncine, representante
da Secretaria Municipal da Fazenda; do Dr. Alexandre Britto, representando o
Grupo Hospitalar Conceição; do Delegado Jairo Fernando da Costa, representante
do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais.
O Ver. Sebastião Melo, nosso Prefeito em exercício, está com a palavra.
O SR. SEBASTIÃO MELO: Prezado amigo e Presidente
Ver. Adeli, feliz do Presidente de uma Câmara que tem um colega da envergadura
V. Exª para ajudar a presidir esta Casa. Quero dizer, de público, que o Adeli
tem sido, junto com os Vereadores Toni Proença, Nelcir Tessaro, João Carlos
Nedel e Ver. Tarciso Flecha Negra, um parceiro extraordinário de caminhada.
Portanto, muito disso que está aqui se deve à Mesa passada, sem dúvida alguma,
composta pelos Vereadores Todeschini, Sebenelo, Clênia, Meneghetti, Ervino
Besson.
Presidente Adeli, permita-me fazer uma saudação coletiva aos nossos
participantes e resgatar um pouco, há mais de um ano, mais precisamente o final
de 2007 e início de 2008. Aqueles que me conhecem no ativismo social e, depois,
como Vereador desta Casa, sabem que eu tenho tido uma opinião muito crítica em
relação aos parlamentos, que, às vezes, passam o tempo todo dedicados a
produzir apenas leis. Acho que a função de um parlamento também é essa, mas não
é só essa. E quando, num processo salutar de rodízio nesta Casa, eu fui
escolhido, primeiro, pelo meu Partido e ratificado pelos meus Pares, nós
começamos conversações antes mesmo - Verª Maria Celeste, V. Exa que presidia a
Casa - da transição da Casa e fora da Casa.
A nossa Cidade tem muitos valores, mas um valor muito grande é esse
controle social aguçado que esta Cidade tem. Eu, que não era Vereador, mas que
acompanhei isso como ativista da Cidade, vi uma falsa disputa, durante muito
tempo, entre a democracia representativa e a democracia participativa, e eu
achava que isso era uma coisa completamente descabida, porque as lutas da
participação popular são as mesmas lutas daqueles que foram eleitos pelo povo
para construir uma cidade melhor.
E eu digo isso porque acho que esta Casa, hoje, é uma Casa muito mais
próxima da população, produzindo audiências públicas que vão noite adentro, e
audiências públicas resolutivas. Aliás, quero convidá-los a participarem, no
dia 24, às 19h, neste Plenário, de um dos debates mais ricos que esta Cidade
tem que enfrentar, que é o debate sobre o Cais do Porto; haverá uma audiência
pública aqui que irá noite adentro, e todos estão convidados.
Nós também nos preocupamos com gestão, mas quero chegar ao ponto que
hoje culmina esse debate, que é o planejamento urbano. O Brasil tem tido um
custo muito alto por falta de planejamento, João Carlos; o Poder Público, em
geral, foi perdendo a sua capacidade de planejamento, e isso não se deve a esse
ou àquele; não dá para pessoalizar. É que o cobertor é tão curto, o Orçamento é
tão pequeno, que o gestor público fica extremamente engessado, e ele, às vezes,
tem que tomar uma decisão aqui e agora e anual, dentro do Orçamento!
Como eu
disse anteriormente, o Poder Público, em geral, Nelson, foi perdendo a
capacidade de planejamento. A nossa Cidade foi vanguarda; muito do que está no
Estatuto da Cidade hoje, que é uma lei extraordinária, nasceu de leis e das
experiências da nossa Cidade. Mas eu diria que nós fomos perdendo essa
capacidade de planejamento, e isso não se deve a esse ou àquele Governo. Eu
olho hoje para a nossa Cidade e vejo que é preciso ter uma visão de conjunto.
Às vezes eu libero um empreendimento que está colado no outro e não levo em
consideração o impacto que aquele vizinho vai ter. Isso, na nossa avaliação,
precisa mudar, Nelson. O Professor João Carlos falou, o Daiçon repetiu: não dá
para pensar qualquer um dos temas urbanos desta Cidade sem olhar para a Região
Metropolitana; Nelson, tu sabes da nossa insistência nisso. A nossa Metroplan
teve, lá atrás, esse papel, mas foi perdendo. Eu me lembro de que, no Governo
do Pedro Simon, falando de 1986, a Matroplan começou a fazer obra, o que não é
papel da Metroplan. E aí o planejamento ficou de lado, as obras começaram a ser
feitas, os quadros foram envelhecendo, não se abre concurso público, e vai
acontecendo como acontece aqui na nossa Cidade, que tem extraordinários
técnicos ainda na SPM, mas que são poucos porque foram se aposentando.
Por isso a Câmara, no ano passado, entre as suas atividades,
deslocou-se lá para a PUC - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul - e fez isso, primeiro, numa concertação interna dos seus 36 Vereadores, e,
se não fosse assim, o evento não teria ocorrido, mas nós achávamos que era
importante buscar, e fomos buscar. E eu quero falar ao Santana do nosso
agradecimento público, ao Instituto dos Arquitetos do Rio Grande do Sul, que
assinou, que ajudou, que mobilizou e que construiu, junto conosco, esse
processo; agradecer o Botin, Vice-Presidente da Sociedade de Engenharia, que
também foi outro parceiro extraordinário para esse debate; e o nosso querido
Arquiteto Debiaggi, Vice-Presidente da Asbea. Quero dizer também que, se esta
Cidade, se este evento não tivesse tido uma pessoa com o conhecimento, com a
qualidade, com o equilíbrio e com o trânsito do Professor João Carlos, eu tenho
a dizer que seria zero a chance de tudo dar certo; então, o senhor merece o
nosso aplauso. (Palmas.) O senhor, que cumpriu brilhantemente, em vários
governos do PMDB, como Secretário de Planejamento, voltou para a universidade,
está muito bem e poderia muito bem dizer que não poderia dar essa contribuição.
Pois eu fui buscar o João Carlos, e eu me lembro daquele almoço, lá na nossa
Santo Antônio, quando eu disse que o seu “não” iria se transformar num “sim”, e
aí me socorri do Pedro Simon para ligar para ele. Eu disse: “Olha, Simon, você
tem que me ajudar a convencer o Caçapava”. E depois, isso se transformou neste
livro, hoje, Ver. Cecchin. E essas contribuições tiveram um grande coordenador,
mas houve um grande coordenador adjunto que quero aqui reconhecer, que é o
Marcello Beltrand. O Marcelo foi um operador extraordinário. Extraordinário,
Marcello!
Ao Flávio
Presser, Diretor-Geral do DMAE, a nossa saudação. Por gentileza, há um local
reservado para o senhor aqui na frente.
Quero agradecer, meus caros amigos, todos os
parceiros que
já foram aqui nominados. Isso mostra que há muita gente com disposição para
construir uma cidade melhor. Se não fossem esses parceiros, começando pelo
Banrisul, pela CEEE e todos os outros, nós também não teríamos realizado
absolutamente esses encontros e este livro.
Eu quero aqui render também as minhas homenagens à empresa Capacitá, que foi nossa parceira de todos os momentos e de todas as horas e que finaliza conosco este ciclo de eventos.
Quero também estender esses cumprimentos, de forma muito efusiva, ao
Benamy, à Maria Alice, ao Francisconi e ao Professor Lindau. Quero um aplauso
para estes jovens que foram fantásticos, extraordinários. (Palmas.) E os temas
debatidos lá, Profº João Carlos, e os temas debatidos nesta Casa diariamente,
do ponto de vista urbano, Todeschini, são intermináveis; eles são inesgotáveis.
Nós vamos votar a revisão do Plano Diretor agora, em outubro. Nós vamos
terminar essa votação, e há mais quinhentas pendências que vão ficar, de
assuntos que não entraram na revisão do nosso Plano Diretor. Por isso eu
pretendo continuar, com os Vereadores, uma conversa muito frutífera com o
Prefeito Fogaça, que é um homem muito sensível, extremamente sensível,
extremamente parceiro das boas lutas, porque a criação do instituto depende
100% da vontade do Executivo. Nós podemos fazer todo o esforço aqui na Câmara,
mas, se não houver a vontade política do Executivo, a chance de o instituto
sair é zero, primeiro porque ele tem que ter financiamento, e quem detém o
Orçamento do Município é o Sr. Prefeito, é o Poder Executivo. E eu não penso,
meus caros amigos, num instituto que seja uma coisa mastodôntica. O Instituto
de Curitiba, que começou em 1964, 1965, hoje tem deformações, o que é
reconhecido pelo seu próprio fundador, Jaime Lerner; ele cresceu demais. Nós
pensamos numa instituição cujo formato jurídico seja construído, mas cujo
financiamento, Nelson, seja majoritariamente público, porque você vai
tratar com um traçado das políticas públicas. Agora, ele não precisa ser com
100% de recursos públicos, mas, nele, as universidades têm que ter assento; o
Governo do Estado tem que dividir essa responsabilidade do ponto de vista da
sua construção, porque ele é um observatório da Região Metropolitana; que os
seus dirigentes, seja Executivo, sejam conselhos, tenham mandato que passe de
Prefeito a Prefeito, e não que chegue um Prefeito e retire uma boa pessoa que
está lá; e o Instituto deve dar para qualquer Prefeito que sente no Paço
Municipal as condições de fazer o melhor para esta Cidade.
No que diz respeito a decidir sem empoderamento, Presidente Adeli, eu
quero dizer que a gente, muitas vezes, decide mal. A participação popular é
extraordinária, fantástica, e esta Cidade não abre mão disso, mas as pessoas
precisam ter conhecimento para decidir. Muitas vezes, a gente vê pessoas
decidirem sem conhecimento, porque há questões que são tão profundas que, às
vezes, nem os técnicos as conseguem aprofundar.
A democracia passa por isso. Disse o Prefeito, e está certo; disseram
os que me antecederam, e estão certos: o planejamento começa no Município. Os
Municípios precisam, Daiçon, de planejamento, mas também precisam de recursos;
não dá mais para vivermos como estamos vivendo neste Brasil, onde a União pode
tudo, os Estados podem um pouquinho, os Municípios, quase nada - essa discussão
é interminável.
Eu queria dizer, Daiçon, que a sua vinda aqui tem um significado muito
grande. Você reúne aquelas qualidades que poucos têm na política: a qualidade
técnica com a qualidade política. Você é um brilhante profissional que eu conheço
há muito tempo, e você chega à presidência da Granpal. Acho que, depois de
você, vem um outro grande Prefeito que tem se revelado, chamado Jairo Jorge, de
Canoas. Eu acho que, junto com o Fogaça, que é o Prefeito da Capital, com você,
na presidência da Granpal, com o Jairo e outros, este Legislativo... E nós
criamos aqui, na semana passada, um fórum - e já estamos na terceira reunião -
para tratar da Copa do Mundo. Estiveram aqui mais de 100 Vereadores; estiveram
aqui mais de uma dezena de secretários de planejamento; estiveram aqui o nosso
Vice-Prefeito, vários outros prefeitos e outros vice-prefeitos, porque nós
temos que ter a inteligência e a capacidade que outros países tiveram quando
receberam a Copa, que é buscar recursos internacionais, buscar recursos do
Governo Federal, que está sinalizando dessa forma, e dos nossos ativos
municipais e estaduais, porque uma cidade só é boa ao turista quando ela é boa
para o cidadão que mora nela.
E há muitos desafios. O Cais do Porto! Tomara Deus, meus caros
Vereadores, que possamos estar comemorando a vitória do Brasil em um dos bares
e restaurantes na beira do nosso Cais do Porto, porque será um grande avanço
para esta Cidade.
Que bom que possamos passar pela Rodovia do Parque, que não vai
resolver todo o problema da BR-116, mas que vai melhorar muito; que bom que
possamos passar em uma Av. Beira-Rio duplicada, para acessar esse grande e
extraordinário Internacional, que vai sediar a Copa. Que bom que a gente possa
acessar o BarraShopping; o Museu Iberê Camargo, na duplicação da nossa Vila
Tronco, da nossa Cruzeiro-Tronco; que extraordinário podermos transferir as
três, quatro mil famílias da nossa Vila Dique-Nazaré, dando mais dignidade
àquelas pessoas, para que tenham suas moradias com dignidade, mas que possa o
Aeroporto Internacional Salgado Filho fazer as exportações necessárias e
receber voos diretos de todas as parte do mundo.
Digo isso, porque o que estamos discutindo aqui tem tudo a ver com
esses assuntos. Esta Cidade tem várias cidades dentro dela. Tessaro, V. Exª
presidiu o DEMHAB, assim como o Pujol e tantos outros, nós temos quase mil
áreas irregulares, 22 mil famílias nas chamadas “áreas de risco” desta Cidade.
Há crianças que nascem, crescem e que não conhecem um campo de futebol na sua
região, onde não há rua sequer para passar uma moto para levar um botijão de
gás nas madrugadas. Esta é a cidade que precisa de planejamento, porque, tendo
planejamento, você busca recursos, porque não é com recurso do ISS, não é com
recurso apenas municipal que vamos enfrentar esses temas. Por isso estamos
convencidos, muito convencidos de que o Legislativo de Porto Alegre está dando
a sua contribuição - singela, mas sincera. “Discurso sem ato é como tiro sem
bala”, diria o Padre Vieira. Não basta discursar; os políticos têm que ter
ações! O Brasil precisa de mais ações. Podemos até errar, mas não dá para
discursar e nada fazer.
Por isso orgulho-me muito, eu, que vim de tão longe, que me aquerenciei
nesta Cidade e que me tornei um porto-alegrense de quatro costados e um gaúcho
com muito orgulho deste Estado, porque povo que não sabe o que quer não vai a
lugar nenhum. E este povo sabe o que quer.
Por esta Cidade que eu adotei e que me adotou - eu, que estou chegando
ao final de um ciclo de vereança aqui na Cidade -, digo, com muito orgulho:
conheço muitas Câmaras, muitas, mas digo aos meus colegas Vereadores que esta
aqui é uma escola, uma grande escola. E amanhã haverá uma homenagem - porque
temos de projetar o futuro, mas não podemos esquecer do passado -, e estarão
aqui mais de cem Vereadores, dentre eles Alceu Collares, Jair Soares, Maria do
Rosário, Henrique Fontana, Manuela e tantos outros que saíram desta Casa, e que
serão homenageados, às 10h, sob a Presidência do Ver. Adeli. Vamos entregar a
eles o reconhecimento, um Diploma dizendo que eles foram muito importantes para
esta Cidade ter chegado aonde chegou.
Por isso reconhecer o passado é importante, mas projetar o futuro não é
menos importante. No dia a dia de uma cidade, é necessária a fiscalização do
Vereador, e, com toda a certeza, nós vamos passar aqui no Parlamento, mas a
nossa contribuição ficará para as gerações futuras.
Molière dizia que não somos responsáveis só pelo que fazemos, mas por
aquilo que deixamos de fazer. Por isso esta Casa não está deixando de fazer;
ela está fazendo com muita firmeza, com muita propriedade o seu papel de
fiscalizar, de ter gestão pública, de cuidar bem do dinheiro público e também
de apontar caminhos. É muito fácil, às vezes, jogar pedra. Quando a Câmara
apresenta um livro e diz: “Olha, nós, para melhorarmos o transporte nesta
Cidade, estamos apresentando este conjunto de ideias”, Professor, isso é fazer
política de forma maiúscula; quando não estamos só fazendo a crítica, mas
estamos apontando o caminho. Quando apresentamos Urbanismo Sustentável, que é
um tema desafiante, Francisconi, quando olhamos para esta Cidade, com as praças
e os monumentos pichados, percebemos que é importante uma estética melhor para
a Cidade, porque, dessa forma, a Cidade faz as pessoas mais alegres.
Por isso falávamos, ontem, eu e o Fortunati, sobre a questão da
Segurança, que é um desafio do Brasil. Agora, não vamos pensar numa segurança
para isolar os estádios a 1.500 metros, no dia da Copa, botar toda a Brigada lá
e dizer que isso é Segurança pública. Não. Nós temos que construir aquilo que a
FIFA tem nos recomendado, e a Segurança pública começa pelo Município, pela
iluminação, pela integração, Cecchin, por caçar - e V. Exª tem feito isso a
respeito de muitos bares que se propõem a uma finalidade, mas que se utilizam
de outras, como vendas de drogas. Então, essa articulação toda faz parte de um
conjunto de ações.
Por isso, Ver. Adeli, um abraço muito fraterno à V. Exª Eu não sabia, e
fiquei sabendo anteontem, quando o Prefeito me ligou, dizendo que teria de
viajar. Ele era para estar conosco aqui, à tarde. Mas isso é constitucional
quando nas ausências do Prefeito e do Vice, e eu me sinto muito orgulhoso de
estar aqui, hoje, não como Prefeito, mas respondendo pela Prefeitura e sendo
presidido por esta extraordinária figura, amiga, competente, que é o nosso 1º
Vice-Presidente, Ver. Adeli Sell. Muito obrigado, Brum. Muito obrigado a todos
você. Muito obrigado, e a caminhada continua! (Palmas.)
(Não revisado pelo orador.)
As Instituições que estão aqui nesta
Mesa, como já foram citadas pelo Melo, têm colaborado e deram sustentação ao
trabalho que agora vamos entregar, em seguida, aqui, que é este livro “Porto
Alegre, uma visão de futuro”.
Mais uma vez, portanto, quero agradecer aqueles que hoje, à tarde, aqui estiveram e que colaboraram conosco - Professor Lindau, Francisconi, Maria Alice, o próprio Brum Torres e o Benamy -, e também reprisar aqui que hoje, à noite, aqueles que quiserem estar conosco, por adesão, teremos um jantar ali no Rua da Praia Shopping, no restaurante Variettà Bistrô.
Sem mais delongas - está todo o mundo nervoso para pegar o seu livro -,
em nome desta Casa, os autores, como já foi dito, autografarão. É importante
pegar algumas dessas assinaturas, porque elas valem muito, e um livro
autografado por estas pessoas será um orgulho se ler depois da convivência
maravilhosa que tivemos nesta tarde de 03 de setembro.
Sucesso absoluto para esta Cidade encantadora que, na minha opinião,
começa a deixar de estar de costas para o lago Guaíba; começa a se apropriar,
de forma mais ousada, do seu espaço urbano, e planeja, com coragem e
determinação, o seu futuro.
Assim, tenham todos uma boa-tarde, e vamos ao lançamento e ao autógrafo
do livro. Obrigado. (Palmas.)
Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se a Sessão às 18h33min.)
* * * * *